A voracidade do fugaz é um conjunto de poemas que tratam de assuntos diversos, mas sempre retornando às questões existenciais, à relação do ser humano com o tempo e às corporeidades. Além disso, experimentamos a viagem imagética comum à poesia, através de poemas curtos, feitos assim, no susto que a inspiração nos dá de vez em quando. São poeminhas em que o sentido, se há algum, é póstumo à construção fonética.
Alex Conceição, nasceu na cidade de Poções, interior da Bahia. Filho de mãe ex-empregada doméstica e de pai pedreiro. Irmão de um grande artista e companheiro de uma pessoa maravilhosa. Está no mundo desde 1991, se graduou em História e hoje é professor dessa disciplina em uma instituição pública. Também faz canções e tem uma banda.
Tecer é verbo tão poderoso
e tanto tempo nivelado
para derramar tinta
sobre essa estrada
da palavra,
que por que não sei, mas foi
e eis-me aqui
urdindo o texto
na iminência do sono,
intervalo necessário obrigatório
para o acalanto do meu lado
fisiológico...
Antes, no entanto,
busco até onde a vista alcança – e
creia, não é muito; é mais ou menos
três por dois e meio em metros,
ampliados por objetos,
livros que por si sós
comportam-se inumeráveis sóis,
e outros mais, chaves para lembranças
e, com o ausente que se faz presente,
assim a expansão do quarto alcança
quase que galáctico porte,
ou mais que quase – e encontro
fios para compor a poesia,
acalanto para o lado filosófico...
Despótico desejo de permanecer aqui.
Ainda que assim sucumba ao delírio
da palavra sonolenta? – questionamentos a mim mesmo.
Não – respondo – não, digo permanecer em sentido lato.
Ainda que de fato completamente abstrato,
quando ausente minha matéria corpo,
fique aqui a marca da minha passagem
e não a marca inerte das pegadas
fossilizadas na lama – e nem sei se é assim que se fala...
Onde já se viu, fossilizar as marcas?! – uma marca viva
e amolada da palavra escrita, tal como o brilho da lâmina
que atrai, seduz, fende a carne entrando pelas portas e janelas da alma,
e marca... muito mais dinâmico!
É o que busco em um penúltimo esforço...
E veja, disso não deduza, senhor eu mesmo,
que algo tenho hoje contra as palavras sonorantes
– que me perdoe, João, meu poeta – pois elas são possíveis
para acessar as áreas onde a poesia habita completa...
Com isso acedo às palavras e Manoel,
que desviu o mundo pra nós,
com os olhos descansando no azul do céu
e, nas margens do entardecer, tomou feição de rã
e à beira do abandono, contraiu gorjeios, moda árvore.
Sim, o delírio da palavra!
Ah! O delírio da palavra que a fome causa.
Essa que se assenta sobre a ausência,
não pode ficar ausente de qualquer coisa viva,
pois ela desperta, um sinal de alerta
para manter o equilíbrio,
ainda que ela nada tenha com
a permanência no trapézio
e sim com a dura queda...
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