Em "Algumas coisas que um dia eu escrevi" o autor Bruno David reúne poemas que mostram o olhar de um artista em constante formação. De alguém que lançou sua leitura poética para o mundo e que percebeu desse mundo as suas possibilidades de poesia, no chão, no céu, na paisagem, nas pessoas, nos acontecimentos, nas veias e ranhuras, no escuro e na claridade. Num exercício contínuo de enxergar a poesia onde ela está. Os poemas perpassam por temas como o amor, as religiosidades, a mineiridade, o tempo, as artes, e as questões políticas e sociais que saltaram aos olhos do poeta à época em que foram escritas.
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Bruno David nasceu em Cláudio/MG, é ator, dramaturgo, diretor de teatro e poeta. Gosta de ler e de escrever desde criança. Quando adolescente escrevia poesias e peças teatrais. Formou-se Bacharel em Interpretação Teatral e Mestre em Artes da Cena pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua profissionalmente no teatro há mais de 10 anos. Nunca deixou de escrever suas poesias e de ver o mundo os olhos de criança, enxergando a poesia possível das coisas.
ADEUS MUNDO CRUEL
Dizendo essas palavras,
Pulou num poço de poesias.
Afogou-se.
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ADVERTE
Em exagero, matam:
Cigarro
Bebida
Saudade
E paixão
Todos em igual
Pro-por-ção.
*
CÉU
Numa manhã clarinha
Lá foi ela correndo
Pra cima das nuvens
Brincar de latir.
Não entendia como chegou lá.
Só sabia que acordou
E que tudo estava mais claro,
tudo estava mais calmo.
Foi quando alguém chamou:
Procurou,
Pulou de nuvem em nuvem
Sem encontrar.
E viu que mais pra frente havia
Um senhor de trajes diferentes.
Não era roupa de se vestir, como aqueles de sempre se vestiam.
Foi, ressabiada, farejando, pra ver o que era.
Quando chegou perto,
E com sua maneira de sempre:
Abanou o rabo e sorriu.
Sim, ela sabia sorrir.
E aquele senhor,
Cercado de bichos, com uma voz muito calma
Disse que ele poderia vir
Que estava tudo certo; e de novo a fez sorrir.
Acompanhando o senhor, feliz e contente
Sentiu falta daqueles de sempre.
Eles não foram com ela.
Mas aquele senhor da roupa diferente já teria a resposta.
Depois de dizer que ela agora ficaria lá,
De mostrar todos os outros bichos,
De explicar o porquê que tudo foi assim,
Ele a levou para um determinado lugar.
E ela chegando o focinho um pouco pra frente
Olhando pra baixo
Pôde ver todos aqueles de sempre
Se sentiu confortada já que estava perto deles
E que poderia olha-los de lá.
Latiu feliz.
Francisco teve a certeza que estava tudo certo.