A obra “carretel ladeira abaixo” trata - através do prisma do gênero e da sexualidade - da construção da identidade e dos relacionamentos, da relação com o corpo e o espaço físico, e da noção de pertencimento.
Assim, pretende explorar de forma entrecruzada as experiências do autor com sua identidade: como, a partir das experiências do desejo e do corpo, ele é levado a explorar novos espaços e entender novas formas de pertencimento e não-pertencimento; como, a partir do deslocamento físico, ele se vê diante de um outro universal, que o coloca constantemente em xeque; e como, a partir desse encontro, e do entendimento de seu potencial paradoxal e dialético, ele cede espaço a si próprio.
Mateus Rebello é formado em Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra, pós-graduado em Responsabilidade Social pela UFRJ e trabalha com projetos na área de gestão e políticas públicas. Pesquisa sobre gênero e sexualidade, tendo criado e escrito uma newsletter LGBTQIA+ enquanto alumni do Vetor Brasil, e pautando questões de saúde LGBTQIA+ enquanto membro do Observatório de Direitos Humanos do CNJ.
Nasceu no Rio de Janeiro em outubro de 1993, de onde saiu em 2014 para ir estudar Relações Internacionais em Coimbra. Acabou fazendo um intercâmbio em Bolonha, um estágio em Nansana, e um trainee em Maceió, até que voltou em 2020. Publica poesias no portal Fazia Poesia, pra onde também escreve uma coluna mensal, já participou de antologias poéticas e, recentemente, concluiu o curso de “Poesia Expandida” da Casa das Rosas.
Carretel ladeira abaixo é seu livro de estréia na poesia.
o corpo queer quer
o corpo queer
simplesmente
quer
quer querer
poder ser
aparecer
ser
a aparência
de si
aparecer
enquanto é:
corpo que quer
quer poder
parecer
tudo que é
quer tudo
que poder ser
permite
quer tanto
que ousa ser
o limite
*
mestre de obras
no espaço que crio
entre quem sou
e quem quero ser
você entra e reforma
o que há dentro de mim
no momento da dúvida
sobre essa construção
você varre toda a poeira
limpa a casa a minha
cabeça e o meu coração
na incerteza de nós no
abismo que nós somos
vamos construindo pontes
feitas de nossas peles
por cima dos escombros
no cheiro que fica em mim
depois de uma noite agarrados
eu encontro uma certeza no
agora: não há projeto desenhado
a entrega é mestre de obras