Catraca - Raoni Arraes

O LIVRO

Se o “caminho do poema é uma ladeira” com este livro fui capaz de sentir que consigo enfrentá-la sim (apesar
da minha coluna idosa), porém, mais forte.
A riqueza e a sensibilidade poética do nosso Abatoooi Rao, nos traz uma perspectiva clara de uma sociedade
que a cada dia nos mata lentamente das mais diversas formas. Este livro, também nos apresenta uma visão
unânime que entre “chanfanas e vinhos”; entre “cervejas, girassóis e poemas”; sempre haverá um amigo para
nos abraçar e nos relembrar, que somos feitos para voar (e arrisco dizer, ainda mais para amar).
Evidentemente, que este é um vôo que soa estranho no início, principalmente tendo em conta uma
autoproclamada “sociedade evoluída”, que nos impõe modos, formas e jeitos de nos portar, e mais ainda,
nossas formas de amar, de partilhar e de lutar. Eis que este é um vôo que se torna ainda mais difícil por conta
de olhares, julgamentos e preconceitos contra tanta gente que só quer: voar.
A Catraca do Rao, mostra que ao mesmo tempo que existe o sofrimento e controle imposto por diversos
mecanismos (ênfase aqui aos transportes públicos), este mesmo nome pode fazer nos remeter ao
Hemitriccus obsoletus, ave-irmã que vive na nossa América do Sul. Dando um enfoque a esta segunda
Catraca (que voa livremente), esta é capaz de nos ensinar que não precisamos nos importar com os padrões
impostos, quando a nossa alma está embebida daquilo que precisamos para voar.
Disto isto, lutemos e estejamos juntes, para que os “caminhos dos poemas” continuem sendo menos
íngremes para todes que por acaso precisem o enfrentar. Para os dias de hoje, é mais do que essencial que
tenhamos a percepção de que podemos voar. E por qual motivo não voar junto? Afinal, partilhar deste vôo e
outros tantos momentos mundo e vida afora, vale muito mais a pena.
(De algum lugar, por algum caminho, voando)

Jefferson Felipe

O AUTOR

Raoni Arraes. Cientista Social pela UFPA e doutorando em Antropologia na Universidade de Coimbra.
Fotógrafo e poeta Amazônida e um dos fundadores da Revista Baleia: Versos Viralatas, que reúne poetas
imigrantes em Coimbra.

UM POEMA DO LIVRO

Ca.tra.ca
Objeto opressor
Para alguns um sinônimo
Dos abusos financeiros
De uma elite econômica
Que ri da cara do trabalhador
Para mim, um inimigo íntimo
Desafiador da minha dignidade
Possui vida
Função total e completa de me prender
E humilhar

Por muitas vezes, escolhi ir a pé

Do que encarar.