Entrenós é uma trajetória pelas histórias mais diversas e intimamente ligadas à trajetória da população negra. Partindo de experiências que buscam encontrar abrigo para lágrimas e sorrisos; uma oportunidade para ressignificar nossa existência e acarinhar nossa essência; louvar nossa ancestralidade fundamentada na irmandade. Para falar da força que nos move e nos constrói. Entre laços e entre abraços, entre afetos, Entrenós.
Joice Barbosa é natural de Nilópolis, moradora da Chatuba de Mesquita, ambos na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Graduada em Letras – Português/Literaturas pela UFRRJ, revisora e preparadora de textos e escritora. Autora de obras publicadas em antologias que variam entre os gêneros carta, crônica, conto, poema e poesia. Amante da leitura e da escrita, da animação e da ilustração gráfica. Filha, neta e bisneta de Maria.
Mino
Quando ele se olha no espelho e ajeita a nagô, não tem jeito
Já sabe que gato com seu afro bolado, mas lança uns trançados, com todo direito
Desencana com papo de corpo, se acha gostoso na medida certa
Faz o tipo coquinha gelada com pastel de feira, eu já tô esperta
Com seu fone velho de guerra, ele pensa o futuro feito Djonga e Bk
Dá o nome quando lança suas rimas, meu preto é poeta e vai te impressionar
Não quer guerra, mas sai de sua esfera, trajado em pantera, se preciso for
Faz seus lances com tranquilidade, é o rei da bondade, mas toca o terror.
Para os seus, proteção, é carinho de irmão
Perco tudo pra tua beleza, e me perco nas manhas da tua grandeza
Não troco, não vendo, não abro, só fecho
Com você ao meu lado nem ligo pro resto.
*
E rio, e danço, e amo,
Sou portal para o teu recomeço,
Te guio, te clamo, me viro do avesso
Pra dentro te chamo.
*
Meu legado
Se do amor tivemos pouco,
Se do poder tivemos pouco,
Contando apenas com o outro,
o que será que nos espera?
Ao pé do trono, sentimos o cheiro do passado,
Corpos pretos, coroados, adornados e enterrados,
Caminhamos para dias em que vamos eternizá-los.
Peço a ti minha licença, tenho um tanto a revelar,
Das memórias que ecoam num canto, do meu paradeiro,
irei lhe contar:
Fui cunhado nas riquezas,
Meus escritos perpassei,
Fui poeta, majestade, liberdade, salve o rei!
Fui bravo, fui forte, lutei contra a morte, deixado a sorte
de pé me firmei.
Meu legado foi forjado do suor dos ancestrais,
Conquistado do legado de abater um capataz
Do ébano, filhos, embalados quão nenê,
Germinados feito milho, perfumados de dendê
Na garra da mãe terra prospera nossa proteção,
Amparados como filhos, abraçados como irmãos,
Que o passado foi martírio, nunca vamos esquecer, mas
fluímos como rios, destinados a nos mover.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Coleção Machado Preto - Livro #16
36 p.; 13 X 16 cm
ISBN 978-65-85955-01-0