Escutas Além do Giz é uma obra que reflete a realidade dos alunos e do ambiente escolar de muitas escolas públicas, nas quais a autora, Silvia Cristine de Souza Zillo, atuou ao longo de mais de uma década como educadora. A maior parte deste livro é composta por narrativas de escutas, observações e percepções que, de diversas maneiras, a autora foi profundamente tocada.
Algumas dessas escutas são pedidos de ajuda, outras, desabafos; retratam realidades cotidianas, particularidades do trabalho docente e tudo aquilo que vai além do simples ato de ensinar. Essas experiências levaram e continuam levando Silvia a refletir sobre quem, de fato, são seus alunos, quais histórias eles carregam consigo e como será a vida adulta deles, quando traumas, medos, curiosidades e resistências não forem mais ouvidos.
Para muitos desses jovens, a escola se configura como um espaço de socialização, de entretenimento e até de fuga. Cultura, arte e esporte, infelizmente, não estão plenamente democratizados no Brasil. A escola, para muitos, também é o único lugar onde conseguem se alimentar de maneira adequada, em um país onde, nas regiões mais extremas, muitos cidadãos ainda enfrentam a fome.
A escola nunca foi apenas um espaço de transmissão de conhecimento; ela vai muito além do quadro negro e do giz. Escutas Além do Giz apresenta a escola como ela realmente é, com suas deficiências, suas ausências, sonhos, medos, angústias e vidas. Este livro resgata uma parte da educação que a sociedade frequentemente desconhece ou esquece, pois todos, em algum momento da vida, passaram por uma escola.
Silvia Cristine de Souza Zillo é professora da rede pública de São Paulo. Filósofa e publicitária, é casada e mãe de duas jovens e dois pets. Seu apreço pela escrita surgiu naturalmente de sua paixão pela leitura, que desenvolveu desde os tempos da escola primária.
Atualmente, leciona História, mas também se aventura por outras disciplinas das áreas de Humanas. Além de seu trabalho como educadora, Silvia realiza atividades voluntárias e tem uma quase ONG. Sua paixão por desenhar e criar Mandalas a levou a pintar e comercializar essas obras, sempre acompanhadas de poesias personalizadas para cada destinatário.
Com uma grande produção de poesias, microcontos e haicais, Silvia encontrou em Escutas Além do Giz a forma de expressar suas experiências e reflexões a partir de suas vivências em sala de aula. Ela é uma ávida leitora de autobiografias, romances, poesias e contos, e também se dedica ao estudo de livros didáticos, claro!
Mesmo depois do Estado ter mandado sucatear seus direitos, ordenar o progresso em forma de cacetetes, manchar sua “fhysis” de sangue com louvor; ele seguiu amando! Amando seu trabalho, seus livros e alunos!
Bom dia, companheiros! Vai um café́ com ervas? Pergunta com sua voz de trovador poeta ajeitando o chapéu de aba que é quase seu sobrenome.
(Minha observação singela, meu respeito a um amigo professor agredido covardemente numa manifestação e a todos os professores que além do giz marcham em curvas perigosas por uma Educação transformadora.)
Professora tudo bem?
Vai fazer chamada né! Então, quando chegar no Elias a senhora pode pular por favor?
Por favor, prof.! Eles irão “zoar” comigo.
Tenho um nome social Elisa, mas a minha mãe ainda não assinou a documentação.
Por favor Professora!
(Numa Escola da periferia esta jovem Trans me fez esse pedido. Era aplicação do Saresp e eu não a conhecia. ELISA... Presente)
É como dançar na chuva, mas de guarda-chuva prof. Eu falei para ela que não irei mudar!
Sou a mesma filha. A mesma que sempre ouvira as suas histórias, seus conselhos.
Tenho os mesmos sonhos. Sou a mesma garota e sempre boa aluna. Continuo tirando as melhores notas...
Eu gosto de mulher e minha liberdade ecoa em cores!
(“Todes” os dias, escuto, ouço e observo a tristeza e a fortaleza de quem quer ser de verdade! Escuta de uma linda, inteligente e corajosa aluna)
“Prô” conheci um garoto no “tinder”, vamos ao cinema juntos... olha?
Gatinho né prof.?
Ele já trabalha, gosta de Rock e..., como eu, usa roupas pretas.
Não se preocupe prof., minha mãe irá me levar e me esperar... já sinto calafrios na barriga.
Será́ o meu 1o encontro!
(Relato de uma linda e sensível aluna! Sua maquiagem era impactante, suas roupas góticas e seus piercings narravam estereótipos determinantes. Com um delicado traço de rímel preto, eu podia ver seus olhos lacrimejados de emoção voarem feito cisne).
Prof. Quero entender melhor sobre apropriação cultural. Eu não concordo muito! Sou uma garota preta, minha mãe é trancista e já me falou sobre as tranças serem símbolos na cultura afro.
Não prof.; fala só para mim...
Sabe, faço tranças Nagô em qualquer pessoa. Faço em quem gosta e acha bonito. Me pagam! É meu trabalho! Ué “tô” errada?
Tipo prof., a menina chega e acha lindo meu trabalho, me vê e quer me pagar, eu faço! Se ela é branca, amarela, preta, eu faço!
(Dara era trancista, ganhava seu dinheiro trançando cabelos e fazendo dreads. Perguntou para mim baixinho, pois era muito tímida. Linda e ótima aluna, tinha uma caligrafia perfeita e um caderno impecável. Toda semana ela esbanjava sua beleza com tranças em diferentes desenhos, cores e miçangas. Pedi para Dara relatar seu trabalho para a sala, insisti e ela topou. Foi lindo ouvi-la, a aula era sobre apropriação cultural e sua dúvida e relato engrandeceu a aula; todos os outros a ouviram com respeito e curiosidade. Naquele momento eu estava como Professora de História e sabia que não era meu lugar de fala; não respondi sua dúvida e ela entendeu).
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