Soneto aos olhos e outras impressões é, como o título vem a dizer, um livro de sonetos. Fazendo uso do estilo clássico (que legou ao ocidente e ao mundo a escrita de autores como Camões, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Florbela Espanca, entre outros), o autor encontrou um meio de imprimir o que de mais flagrante sentiu necessário escrever. O amor; a saudade; um acontecimento do cotidiano; a descrição minuciosa de um quadro… sentimentos que ficariam guardados na memória e que, ao longo de reflexões e investidas frente ao papel, tomaram a forma que tão bem expõe e resume uma visão humana — a forma fixa em dois quartetos e dois tercetos…
Sem a rigidez vocabular de um parnasianismo ou as insinuações subjetivistas de um simbolismo (movimentos literários cujas produções poéticas serviram de inspiração para o autor, indubitavelmente), mas fazendo uso dos decassílabos tão explorados naquelas formas de escrever poemas, a seleção de sonetos aqui apresentada é o relato de uma experiência contemporânea.
Seja a partir dos encantos advindos da Musa, seja a tentativa de capturar uma imagem panorâmica da paisagem citadina, cada escrita é uma tentativa de tornar o testemunho ocular do autor em fruição estética — compartilhando-a, assim, com seu público.
Dada a configuração da obra, reclama ela apenas a cumplicidade do leitor, a paciência para com aquele que, iniciando no mundo das letras, procura espaço para exibir seus arranjos escritos e torná-los, na medida do possível, de uma compreensão universal.
SONETO AOS OLHOS III
Me perco observando o seu retrato:
Os olhos (sempre eles) me dominam;
Percebo então a rósea cor dos lábios,
O piercing de adereço e à mostra os brincos…
Tão bem na foto o rosto é iluminado
Que mais detalhes ver logo imagino:
Um riso, assim, discreto, equilibrado,
Parece dar um charme a esse registro.
Cabelos ajeitados sobre o ombro;
Colar dourado e fino em seu pescoço;
Ao fundo algum lugar, a residência...
Cenário em que ela posa desse jeito,
Olhando para a frente e recebendo
A luz em sua face tão perfeita.
*
SONETO AOS OLHOS VII
Quais formas aplicar, senão poemas
No afã por descrever o indescritível?
Em que lugar reter as sutilezas
De modo a serem traços redivivos?
Assim como se fossem prateleiras
De base a conservar cada registro,
Os versos, pois, são rápidas maneiras
De relembrar imagens por escrito.
Tornar eterna aquela circunstância
Em que se vê o semblante, a elegância
(Detalhes tão difíceis de explicar).
Um perfil anotado e depois lido,
De apontamentos cheio, permitindo
Tal face ver mais uma vez, o olhar…