No auge da adolescência, escutava muita música.
Basicamente do rádio, veículo ao qual sou fiel até hoje.
Assim, quando alguém falava qualquer coisa, logo associava ao título de alguma música, um trecho da letra, e respondia cantando.
Meu irmão pequeno um dia me falou: nossa, tudo que fala canta!
Essa frase nunca me saiu da cabeça.
tudo que fala canta é um livro onde os poemas aludem a músicas que de alguma forma marcaram um momento de minha vida e serviram assim de gatilho para a escrita.
A segunda parte do livro - Medley para Laís, é uma colagem, uma fita cassete poética gravada para uma amiga.
tudo que fala canta é um livro também pra se ouvir.
Valeska Brinkmann, santista, estudou Rádio e TV na cidade de São Paulo. Tem poemas publicados em revistas literárias online e impressas e em diversas antologias. Traduz poesia alemã contemporânea (revista Cult, Intempestiva, Grifo, escamandro). Em 2021 foi aluna do curso livre de preparação do escritor – Clipe, da Casa das Rosas. Integra o coletivo Glense e o Bidê Coletivo.
Vive em Berlim.
não sou eu quem me navega
o amor ao mar
aprendi em santos mesmo
um cais sem rede
de pescador
somente braço de estivador
como se faz para nadar
indaguei ao peixe
e a estrela do mar
siri desenhou
pegadas na areia
eu sem escama
me agarro no quebra mar
sereia disse lá embaixo
tem um navio afundado
eu é que não mergulho
no profundo salgado
de afogado basta o tempo
*
gavião peneirador para meu avô
gavião velho peneirador
peneirador
gavião velho
na restinga restou a ave no arbusto buscou
areia boa para peneirar
gavião velho peneirador
peneirador
gavião velho
o norte abriga a ave
árvores grandes são raras os campos diversos
cheiro de sal
areia boa pra peneirar
gavião velho
há que perseverar
*
like a rolling stone para Daniel Grimoni
de rochas
velozes
não há
rastro
a subida
escorrega
a descida
desliza
a pedra
não perpetua