No mar de silêncios gritei poesia é, antes de tudo, um ajuntamento de respiros. E, uma vez tendo desobstruído as vias respiratórias de si através das palavras, autora e obra vão construindo um caminho de retomada. De fôlego. Das palavras. Da própria voz. Caminho esse atravessado pela relação com a poesia falada. Ao longo desse caminhar também segue na tentativa de se salvar diante do afogamento em um mar de silêncios impostos, ensinados e reforçados. Reunindo poemas que brotam da vida e que se movimentam para tentar se equilibrar na corda-bamba entre a fúria e o grito cortante de quem, transitando, habitando e ora sendo habitada por várias margens, é atravessada por violências cotidianas as quais denuncia e a leveza de quem busca se desprender das durezas aprendidas ao longo do caminho como tentativa de sobrevivência e também esperançar para seguir produzindo vida, o livro é um ajuntamento de poemas que versam sobretudo sobre o que se sente e o que ecoa nesse corpo vivo e pulsante no qual bate e batuca um coração de poeta. Mais do que se possa dizer sobre ele, “No mar de silêncios gritei poesia” é uma retomada de quem escreve em seu próprio nome e almeja pegar de volta tudo aquilo que lhe foi tomado ou negado. Uma retomada através das palavras.
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Natália Pinheiro ou Preta Poeta, é poeta, slammer, historiadora formada pela URCA, nascida e criada nas terras encantadas do Cariri cearense desde fevereiro de 1999. Tendo começado a escrever ainda na infância como uma brincadeira, ao longo do tempo, passou a ter as palavras como companheiras e muitas das vezes também como salva-vidas, hoje diz que escreve, sobretudo, para se manter viva. É apaixonada por lugares que têm água, e também escreve para deixar toda água que inunda correr feito rio. Por acreditar na potência transformadora da arte, literatura e poesia, se envolve também com trabalhos voltados para a educação em diversos espaços. Tem poemas espalhados pelo mundo em algumas coletâneas físicas e digitais das quais participou nos últimos anos, além de poemas espalhados por lambes pelas cidades. Gosta que as palavras se espalhem feito vento e recita poemas para dançar com a poesia..
Eu Tempestade
Ser o que sou
Do modo mais imenso
Do modo mais intenso
Do modo mais inteiro.
Assuste a quem assustar.
-Não se pode conter uma tempestade.
Então abra o guarda-chuva
ou dance na chuva comigo.
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Espelho (trecho)
Ei, menina que gosta de poesia
O teu cabelo é tão bonito
Parece um escorregador para o infinito
Que tu guarda nesse sorriso
Que eu tanto gosto de ver.
Eu me vejo tanto olhando você...
É que um dia eu já fui assim: pequena grande poeta
Bem calada, muito quieta
Com tanto medo de ser...
De ser tudo aquilo que hoje eu sou
E olha só, quem diria
Que por obra do Universo ou poesia
Esse medo aos poucos sumiria
E libertaria a minha voz.
Ei menina, tu pode tudo!
Inclusive o que disseram não poder por ser mulher
Pode soltar pipa na rua
Pode querer chegar na lua
Pode ser o que quiser!
Tens direito de sonhar
De ser poeta e versar
O que pulsa em teu coração.