Em meio as descobertas de si mesmas, como mulheres negras universitárias, superando e enfrentando o racismo cotidiano, o livro deu seus primeiros passos. Para criá-lo as autoras deram as mãos para se protegerem e viram como a arte nos salva. Inspiradas pelo sambista Cartola e sua primorosa canção O Mundo é Um Moinho de 1976, pensaram no quanto as desigualdades sociais e a discriminação racial nos moe.
Por esse motivo, O Quanto o Mundo já Me Moeu é sobre expressar através de versos livres e imagens as agonias que elas carregam enquanto são trituradas pelas forças da branquitude e do capitalismo.
Seus fragmentos se transformaram em poemas e ilustrações que contam histórias de amor, de reconstrução e de busca pela liberdade.
O livro é dividido em três partes-pedaços: o primeiro é sobre nosso povo: oesias para agradecer aos nossos ancestrais que lutaram por nós. O segundo pedaço é sobre ser uma mulher negra com sonhos moídos por esse mundo, sobre ser a força que nossas mães e nossas avós colocaram dentro da gente. E o terceiro é sobre amores e dores na boca do estômago por algum camarada e, enfim, sobre emancipação.
Soraia Oliveira mora em Lauro de Freitas e é graduanda em Letras na Universidade do Estado da Bahia. Também é professora, se inspira na literatura de Conceição Evaristo, é apaixonada por rap, por chocolate e por escrever poemas sobre ser um corpo negro no universo.
Gabriela Cairo mora na cidade de Salvador. É professora graduanda e pesquisadora na área de Letras Espanhol e suas Literaturas na Universidade do Estado da Bahia. Ademais, é graduanda em Enfermagem na universidade UNIFTC. Tem como referência artistas negros, tendo como inspiração para a criação de sua arte, a cultura soteropolitana e vivências pessoais em suas ilustrações.
O QUANTO O MUNDO JÁ ME MOEU
O quanto o mundo
já me moeu, Cartola
eu não poderia lhe contar
com detalhes
os detalhes deixo para a esperança
e fico com os amargos
gostos das ilusões
que me fazem pensar que sempre
será cedo
e eu já quis partir há muito tempo
mas continuo aqui
deixando-me pelas esquinas
e levando o vazio para casa
*
MARIELLES
Marielles
são resistência
num país
que não dá assistência
que apaga a história
que clareia o que não se pode clarear
porque é negra mesmo
é preta, sem filtro
por isso não aceitam
ecoam rejeitos, dejetos
então, sentimos todos os ciclos
passados, presságios
sangue que carrega a vida
cor que encontra a morte
mas pra quem pensa
que Marielle morreu
presta bem atenção
porque ela renasceu
em mim
Livro O QUANTO O MUNDO JÁ ME MOEU
Poesia / Literatura Brasileira
72 pág. - 1° Edição - 2024
ISBN: 978-65-6064-064-1