Outros 500: Não Queremos Mais O Quinhentismo — CEMana de 22

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Não Manifesto o Moderno

 

Só a ancestralidade nos une. Coletivo, material e espiritualmente. 

 

Tupi, or not tupi there is no question. Oré abaeté. Contra todas as tutelas. Só me interessa o que é da terra. Leis para os leigos da mata. Estamos fatigados de todos os brancos, héteros, de bem e White people problems. Do pós colonial que não é pós porque ainda estamos tentando nos livrar dos traumas que Freud não explica.

 

O que atropela a verdade é a modernidade. A ficção de tempo ocidental. A reação contra o homem moderno. O Acampamentos Terra Livre informará. Wei e kûarasy porque sol é entidade feminina. Em Pindorama e toda Abiayala. 

 

Foi porque nunca tivemos folclore, nem coleções etnográficas. E porque estamos no presente somos urbanos, suburbano, fronteiriços e continentais. Demarcando mapas presentes e ancestrais.

 

Queremos a Retomada. Apenas tudo de volta. A unificação de todos os seres oprimidos pela ideia equivocada de humanidade. Sem isso, todos os seres humanos e não humanos, a Europa e o que se chama humanidade sequer teriam suas declarações sobre qualquer coisa.

 

Não há idade de ouro, ou ouro que seja mais valioso que qualquer idade da vida humana. Filiação. Da violência contra corpos de mulheres indigenas pegas a dente de cachorro. Fomos catequizados, aldeados e subjugados. Mas não desaparecemos porque terra não some. Cristo nasce onde tem gente com memória e com vontade dele. Mas nunca admitimos a extinção ou o extermínio. Só podemos atender ao mundo oré.

 

Contra a PEC 490. E todos os projetos que inviabilizem nossa existência nesse solo. Nunca fomos índios. Essa figura histórica imóvel, passiva e exterminada pela literatura indigenista e pelo imaginário brasileiro de nação. Já tínhamos nações antes de ser conceito. Coletivos antes de ser tendencia de contracultura da individual cultura individualizada da modernidade.

 

Só não há diversidade na monocultura. O que temos nós com isso? Não fazemos especulação. Seguimos resistindo, fazendo fogueiras e dançado. A política que é a ciência da sabedoria ancestral. No sistema da Pachamama. A transfiguração do assimilado ao homem digno de seu pertencimento étnico. A Moral Cristã, a ignorância do amor, do desconhecimento do corpo-terra, da falta de floresta.

 

É preciso partir de um profundo sonho para se chegar à ideia de vida. Algumas gentes ainda sabem sonhar. Antes dos portugueses invadirem Pindorama, Pindorama já sabia sonhar. A alegria é o território. Em Pindorama a terra é mãe, pai e filhe.

 

Contra os esquecimentos convenientes da historiografia. Contra os que insistem em nos pregar nos livros como espectadores de nossa própria morte. Contra os modernos, modernismos e modernidades em que não estivemos incluídos. A alegria é o território. Contra a catequese de Anchieta, de missionários, antigos e contemporâneos. A salvação é cada um cuidar da sua própria vida afetivo-sexual e zelar pela terra e pelo coletivo.

 

Liberdade é um ser, que mora no corpo ancestral, mas que a gente ainda não lembra que conhece.

 

Ellen Lima

Escritora e pesquisadora. 

Ativista indígena

 

Quem Participa


 

Elivelton dos Santos Melo, Genuzi de Lima, Itayná Ranny Tuxá, Filipe Russo, J. A. Mielnik, José Manuel da Silva, Jovina Renhga, Karollen Potyguara, Marcelo Luiz da Silva, Mariana Cambirimba, Nakê Banu Bakê, Olívio Jekupé, Reinaldo Fernandes, Sony Ferseck, Tania Sahire, Xipu Puri, Zélia Balbina Puri, Alvaro Tallarico, Ana Marinho, David Ehrlich, Diego Tomasco, Geraldo Ramiere, Ian Anderson Gomes Dias, Jeferson Ilha, Lara Machado, Lilian Farias, Luis Posich, Rodrigo Ortiz Vinholo, Sandra Fontenelle, Valeska Brinkmann, Amanda Selhorst da Silva, André Eitti Ogawa, Camila Nobiling, Carla Bastos, Cintia B., Denis Scaramussa Pereira, Giovanna Vitória Santos Mazeto, Guilherme Fischer, Jarbas Oliveira Santos, Luiz Eduardo de Carvalho, Maite Diniz Ardies, Maria das Graças Rocha, P. H. de Aragão, Rodrigo Celestino Rocha, Rodrigo Cesar Gobetti Miranda, Sandrinha Barbosa, Schleiden Nunes-Pimenta, V.Hugo, Valéria Pisauro, Valeska Magalhães, Victor Coimbra, Leandro Emanuel Pereira, Flavia Ferrari, Géssica Menino, Jaime Jr., Jéssica Iancoski, Neusa Doretto, Ronaldo Rhusso, Rozana Gastaldi Cominal

 

Poeta Homenageada da Edição

 

Márcia Wayna Kambeba é indígena, do povo Omágua/Kambeba no Alto Solimões (AM). Nasceu na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna. Mora hoje em Belém (PA) e é mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas. Escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista, Márcia percorre todo o Brasil e a América Latina com seu trabalho autoral, discutindo a importância da cultura dos povos indígenas, em uma luta descolonizadora que chama para um pensar crítico-reflexivo sobre o lugar atual dos povos originários sul-americanos.

 

CEMana de 22

 

Em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna, durante o ano todo, lançaremos 12 coletâneas de poesia abordando temas atuais e publicando pelo menos 500 autores diferentes em atividade.

 

Estamos fazendo um trabalho documental minucioso e detalhado, registrando e organizando as informações do presente para que sobrevivam ao futuro. Todo o material reunido e coletado será disponibilizado gratuitamente no site oficial da nossa mostra (cemanade22.com) e deixado como um legado cultural para a posteridade. 

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