Poco - Hugo Guimarães

O Livro

Poco é um pequeno romance, é uma tapeçaria da exclusão e como a as classes privilegiadas olham, secretamente, as minorias.

O Autor

Hugo Guimarães é um escritor prolífico paulista. Publicou o livro de poemas “Poesia gay underground: história e glória” (2008, ed. Annablume), o livro de contos “O Estranho Mundo” (2013, ed.Edith), o romance “O Tiro de um milhão de anos” (2015, ed. Pasavento) livro ganhador do proAC em 2014, o romance “Igor na Chuva” (2019, ed. Folhas de Relva) livro premiado com menção honrosa do Programa Nascente da USP em 2017 e o livro de poemas “Lixeira de Celofane” (2023, ed. Arpillera).

Trecho do Livro

"Já parou para pensar que nesse país conservador de merda, uma garota de treze anos não tem o direito de abortar? As pobres é claro... Elas se trancam no último box do banheiro da escola e arrancam o feto por sucção. Já tentou imaginar uma garotinha negra derramando lágrima por ter expelido a criança? Ao ter ouvido algo se chocando com a água do vaso sanitário? Porque o pai do feto não o quis e os pais da garota o queriam menos ainda? Imaginam o quão difícil é levantar do vaso e ver o filho nem que seja uma vez só ela levanta e há muito sangue no vaso inteiro e a garota tendo uma hemorragia na vagina e nos olhos o bebê não desceria pelo vaso era um bebê de três meses dentro da barriga pode ser lindinho, mas em um vaso sanitário é nojento, a garota deixava o sangue cair bem sobre o feto como se aquilo fosse uma benção, começou a sentir tonturas e achou melhor esperar a hemorragia passar. Sentada no vaso com a cabeça virada para/encostada na parede esperou tanto pela hemorragia e a tontura passar que dormiu, esse sono já era a morte, afinal ficou tudo certo, assim é que é assim é que foi, era o justo, se ele se foi que direito tenho eu de ficar? Mãe e feto, mãe morta naquela posição pornográfica, sentada nua com o short nos pés de frente para a parede com o rosto bem fixado nela, uma hora seu tronco e rosto escorregaram para a direita e a cabeça e o tronco caíram em cima da lixeira, uma perna pendeu para cima e para a direita já que o short prendia as pernas, já era uma senhora de idade a funcionária da limpeza encarregada de fazer tarefas, inclusive como ver se o banheiros estavam vazios quando a escola fechava."

(...)