QUEM VAI CALAR ESSA DOIDA? - Paulo Cesar Macedo Fernandes

O Livro

Quem é a doida deste livro? - Irão perguntar. É a companheira mais antiga que um poeta pode ter. Desde a barriga até o último verso. Ela fala, ela se escreve, é ela que está no outro, na vida... A palavra, nem sempre amiga, mas sempre dizendo.

Mostrando um caminho cheio de figuras e sons. Conta histórias de dentro e de fora, causa aquela confusão, esclarece o imaginário... É a louca que transborda as vozes que habitam nosso mundo.

O Autor

Paulo Cesar Macedo Fernandes é professor de Língua Portuguesa (essa moça tão falada por aí). Natural do Rio de Janeiro, onde a poesia se entrega sob o sol, traz consigo mais de 50 anos de palavras.

Alguns Poemas do Livro

a palavra já não cabe em minha boca

a palavra já não cabe em minha boca

no papel, espalha-se desajeitada

na rua, grita indignada

quem vai calar essa doida?

quem vai inventar outra língua?

ela não tem o direito de expor assim a minha vida

quem vai explicar o que sinto?

quem vai dizer do meu jeito?

não adianta gritar sozinho

não adianta gritar sozinho

tambor absurdo no meio do preferido silêncio

é de asas que precisas

grandes, assumidamente irreais

fazendo voar desejos

lirismo na rede

o lírico não olha mais pra lua

lá, ninguém quer mais pisar

o lírico toca um bit acelerado

o chip da lira vai queimar

lirismo agora só na rede

que balança pendurada num satélite

escrito no céu,

o poema brilha numa nuvem da internet

gosto do dia amanhecendo

gosto do dia amanhecendo

essa poesia das coisas que há

do céu ficando azul claro

da esperança encostando no coração

leitura

Sexta, dia de feira

minha mãe fritando peixe

eu, sentado ali pertinho lendo os jornais que embrulharam os peixes

(minha mãe espalhava as folhas pelo chão para não o sujar com a gordura que espirrava do fogão)

palavras sujas de sabores e significados

fotos de pessoas que eu não conhecia

o mundo estirado sobre o piso da cozinha o amor...

alimento nas letras do papel