“Singularidade: Invólucro Cordial” conta uma história através de poemas de amor. Flertando com diferentes formatos poéticos e abordando diversos ambientes temáticos: das artes ao espaço; do lírico ao cotidiano; da natureza à morte, a narrativa traz conceitos opostos: o interno e o externo; o tudo e o nada; o amor e o não-amor, como dois lados da mesma moeda. Através de camadas de compreensão, a obra convida ao leitor a múltiplas leituras e a participar ativamente da história sendo contada.
Poeta, professor e artista, Matthews Osterlund busca, através da palavra, expressar um pouco de sua visão de mundo. Nasceu em 1995, em Londres, filho de pais brasileiros, se naturalizou brasileiro e enfrentou, desde pequeno, conflitos identitários e uma cobrança de que fosse alguém de destaque — fato que influenciou diretamente sua escrita. Entusiasta de diversas áreas da arte, tem grande apreço pelas línguas e seus diversos usos. Estudante de letras pela UFRGS, Matthews traz características da sua vivência linguística, da música e da comunicação para sua literatura. “Singularidade: Invólucro Cordial” é seu primeiro livro publicado.
Ao tratar de temas intrinsecamente humanos e, por vezes, difíceis de serem apreendidos, os poemas de Matthews Osterlund exploram as múltiplas possibilidades da palavra, seja no significado, no ritmo ou na sonoridade, nos levando a encarar a difícil beleza do amor, da dor, do viver e do morrer.
— Renata Ruffo. Professora e Escritora.
Perdão
Meu nascimento foi uma farsa.
Nunca vivi, sempre estive atuando
Era criança quando me dei por conta;
Minha vida é uma peça
E eu nem sou o protagonista
Na verdade faço vários papéis;
Alguns são vazios
Outros simbólicos
Às vezes figurantes
Ou até um desperdício de talento
Dentro de mim
Coleciono personas
Na roda da fortuna de minhas facetas
Rascunho do enredo
Sem contar o final da obra
Mas promete
Uma comédia trágica
Uma tragédia cômica
O camarim em cima do palco
Com cadeiras e um espelho
E a platéia do outro lado
Maquiagem e figurino
Sou o cenário de cabeça-pra-baixo
Nessa dimensão
O tempo corre pra trás
Foge da própria sombra
E o berço embala meu esqueleto
Enquanto sobem as cortinas
Recebem as rosas
E eu volto para o camarim
Tiro todas as máscaras que empilham minha face
E o rosto embaixo é o teu
E eu volto para dentro do espelho.
*
Sonho-Lúcido
Minha caneta está inquieta
Meus livros batem os pés, ansiosos
As palavras nadam na folha,
Mergulham nas linhas
E às vezes esquecem de voltar
Letras trêmulas e intercaladas gritam
“Ne me quitte pas”