Sou o Passageiro, traz uma série de crônicas que retratam a vida cotidiana no transporte público. A obra explora os desafios enfrentados pelos usuários – desde a lotação, os atrasos e as brigas, até os problemas operacionais e as tarifas cada vez mais altas. Mais do que uma simples descrição das dificuldades, o livro mergulha nas relações políticas e sociais envolvidas no ato de se locomover de ônibus todos os dias.
Sob o olhar de um passageiro, que também se autodenomina um "pseudointelectual" do transporte público, Marcelo Pedralina compartilha suas experiências desde a adolescência, testemunhando a repetição dessas histórias em um ciclo sem fim. Sou Passageiro reflete o cotidiano de quem, além de se mover fisicamente pela cidade, reflete sobre o contexto social e as dinâmicas políticas que moldam essa rotina.
Marcelo Pedralina é autor de poemas e crônicas publicadas em algumas coletâneas. Escreve principalmente sobre ficção, política, futebol e assuntos do cotidiano.
Em 2019, o seu poema, “O conflito das vozes”, foi selecionado para fazer parte da antologia “Desvende-me – O Opúsculo do Suspense”. Em 2020, teve seu poema, “Batata sabor carne”, publicado na revista Suplemento Acre, da editora Ameopoema, e em 2021, teve o poema “O Mendigo” publicado na Antologia “Eles não vão nos calar”. Dentre as crônicas publicadas em 2023 Paizan , Love Generation e Telemarketing Político.
“Daremos a seguir algumas informações sobre nossa viagem. O tempo de percurso até o TERMINAL METROPOLITANO TABOÃO pode variar conforme as condições de trânsito. São encontrados a bordo deste veículo 0 lavatórios: nenhum na parte dianteira e nenhum na parte traseira.
Pedimos sua atenção especial para a utilização dos equipamentos de emergência... opa, onde é que eles estão mesmo?
Passageiros viajando com crianças menores de 6 anos: a responsabilidade é toda de vocês.”
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“Desde os meus zero anos de idade sou adepto do silêncio. Devem existir teorias (e se não houver, é um bom tema de TCC, Mestrado ou Doutorado) por aí dizendo que quem fica por mais tempo em silêncio tem um potencial maior para absorção e aprendizado. O silêncio muito bem praticado é um silêncio ensurdecedor.
E o ensurdecedor em questão é o silêncio no interior de um ônibus às sete da manhã de uma segunda-feira, por exemplo. É o clichê de mais um início de semana: todo mundo de cara fechada, com ar de quem acordou não faz muito tempo, parte com olhos fixos ao celular, parte com fones de ouvido e os pensamentos lá na morte da bezerra.
É assim que a vida do trabalhador começa: motivação que contagia só de olhar. E, não se trata apenas do clichê de que brasileiros são malandros, festeiros e que fazem de tudo para dar migué no serviço. O buraco é bem mais embaixo.”
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“Sobem os degraus. Passam o cartão no leitor. Blip. Catraca liberada. Giram a catraca e vão encontrar algum lugar, seja em pé ou sentado. Isso todo dia. Das quatro da manhã à meia noite. Aos finais de semana e feriados também. A catraca gira, a economia gira e um certo grau de consumo aquece o comércio, a indústria e o terceiro setor. Se há trabalhadores, estudantes e turistas se deslocando por aí, há demanda ativa na cidade.”
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“Uma delas, confessou que estava de caso com um dos gerentes da loja, e este, por sua vez, era casado. Segundo o que meu ouvido atento pode detectar, o que mais a incomodava nessa situação era a desconfiança de sua mãe, a qual já começava a suspeitar de que a filha devia estar se metendo com algum homem comprometido.
Se isso fosse no Irã, seria uma baita confusão mesmo, já que lá adultério é considerado crime. Mas, não nos esqueçamos que o que mais a sociedade teve foram reis e monarcas adúlteros. Não é mesmo, Pedro I? Ou devo dizer, “o Demonão””.
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“...o ambulante passou recolhendo as barras de quem não compraria e o dinheiro de quem optou pela aquisição, mas esqueceu de passar onde eu estava sentado.
Considerei seriamente passar a perna no vendedor e ficar com a barra, então a escondi debaixo do celular. Só que quando reparei ao meu redor, havia dois garotos e um homem mais velho me “comendo” pelos olhos. Imediatamente, a ideia estupida evaporou da minha cabeça.”
Bem-vindo à loja oficial da Editora Toma Aí Um Poema (TAUP), um espaço dedicado à celebração da literatura em suas múltiplas formas e vozes. Desde 2020, publicamos e promovemos obras que desafiam o convencional, oferecendo um catálogo diverso que valoriza autores de minorias sociais, incluindo mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas, neurodivergentes e outras vozes historicamente marginalizadas. Aqui você encontra poesia, ficção, ensaios e publicações que transcendem os limites do tradicional.