Palavra: ponte ou barreira? Entender-se como seres humanos nos apresenta uma
infinitude de sensações incessantes que variam sua potência pela mediação dos nossos afetos. Ainda jovens, pouco entendemos sobre nós mesmos, e a contemporaneidade nos atravessa produzindo uma enormidade de desejos e idealizações, que alimentam a falta e a incompletude da experiência enquanto indivíduos.
O livro A Grande Desventura do Corpo vem da necessidade de expor tudo aquilo que a língua não sabe comunicar, mas a poesia consegue, ou ao menos tenta ilustrar aos olhos, sussurrar aos ouvidos, tocar a pele, afetar ao “EU” leitor, transfigurando-se em sensações que tornam-se hibridas na experiência inconsciente e coletiva da leitura poética.
Eduardo Manosso Zanrosso, é nascido e criado em Caxias do Sul, Rio Grande do
Sul. Educador Físico de formação, mas poeta desde sempre.
Começou a escrever poemas, tão logo quanto foi aprendizado, a fim de colocar em
prática seu fascínio pela leitura e seus desconfortos em relação ao mundo exterior.
Aos 19 anos, ao se deparar com sua independência começou a levar com mais afinco o hábito de escrever, em 2022 ao reunir todas suas criações lançou de forma independente dois livros: “Confortos e Calafrios” e “Fragmentos das Pequenas Mortes que Persistem e dos Lampejos de Vida no Meio do Caminho” na série Palavras Cruas, poemas que surgiram tão e somente da necessidade de descarregar os sentimentos.
Pegar um poema
A palavra não me faz feliz
Mas a interação delas
Vez de rimar leão e bambolê
E desabrochar um útero
De quereres
A palavra toca
O verso atravessa
O poema cria o alcance
Pena não poder pegar o poema
Mas quando o poema pega
É caos sonoro e antídoto
Uma faca que ouriça a espinha
Um dedo que mal desliza a pele
E faz suar a boca
Me poeme, humano
Que me torno rio de janeiro
Em tempos de agosto
*
“Imorrível”
Incorporei teu íntimo segredo
Úmido, quente
Como um "dessuor"
Desejei tua sombra
Sob o raio de luz que
penteava a persiana semicerrada
Da minha pele
Misturei os não saberes
À realidade cor de gelo
E aos cheiros de jamais
Experimentei o exótico,
Mas clamo pelo afrodisíaco
Do teu rastejar violento
Esgueirei-me com o sofrimento
De joelhos no chão
Entre quatro paredes. E gozei. E gozei.
Na primeira vez te entreguei
Na segunda vez te entreguei
Na terceira vez me entreguei
Inteiro. Tanto. Que só me sobrou-te.
Infinita, córrego. “Imorrível”