Acontecimento, CORPO ABERTO. Estar atenta ao que acontece, no agora. Pulsação de encontro de corpos, assim o leio. Estar à altura, no limiar do sensível e do sensitivo, deixar-se apenas e somente fluir. Responder, criar corpos-palavras-com-a-poeta, emocionar-se. Um deleite! O prazer do itinerário nesse inventário de escrituras, sempre silenciosas, toca, subitamente, nas feridas e nas alegrias de um mundo, reclama-declama o papel da poesia, um lugar social. Sem utilitarismo, arma-movimento de produzir-produção, incentiva, liberta, semeia, confunde e sobretudo alegra. Alegria seguir os caminhos de um corpo que grita! Uma poeta pode gritar de muitos modos e assim é este livro, forma-conteúdo-acontecimento-fluxo. Pretendi e aconselho que pessoas leitoras também se sintam convidadas, na conexão com esse emaranhado de escritas, a navegar, como se navega em águas sinuosas, de encontros. Comigo, conosco.
DANIELLY MEZZARI é Psicóloga e doutora em Psicologia e Sociedade. ttrabalha como psicóloga clínica e pesquisadora. A escrita acompanha sua trajetória de vida e suas andanças pelo mundo.
SOBRE PERTENCIMENTO 01
Faço um esforço
meço os passos
para caber em algum traçado
que me aperta
que me corta
e mesmo assim não caibo
Ando reto
linha reta
tudo certo
limpo os gestos
mesmo assim ainda não caibo
Mudo a rota
solto o corpo
passos tortos
sujo o rosto
mesmo assim ainda não caibo
E se caibo
não seguro
pulo fora
vazo, furo
sem sossego
só, não caibo
*
DOS LAÇOS
Entre o sempre e o nunca
existe um laço invisível
há uma voz que grita muda
de um silêncio tão sensível
de uma cor quase pulsante
Entre o sempre e o nunca
existe um corpo transparente
um infinito quase triste
palavras soltas pelo vento
*
FISSURAR
No ponto cego de uma vida
de repente fez-se um corte
no ponto alto de um encontro
sem se ver perdeu-se o rumo
Para sempre, sem motivos
ouviu-se um grito absurdo
O grito era um aviso:
não se guie por um traço sem fissuras!
Livro: Corpo Aberto
Poesia/Literatura Brasileira
70 pág. - 1ª Edição, 2024.
ISBN: 978-65-6064-065-8