Tendo como influências principais Arthur Schnitzler e Jack Kerouac, podemos considerar este livro um romance de matizes góticos no qual o leitor acompanha — como passageiro — a jornada de uma pintora em busca de seu desenvolvimento artístico. Narrado em segunda pessoa, a história traz uma personagem que, precisando insurgir contra o destino de desejo parental, foge com um professor de literatura, por quem é apaixonada. Ao decorrer do livro, a personagem encontra nas artes plásticas um modo de organizar e entender o mundo ao seu redor: através da imaginação e do pictórico, ela desfaz o limite imposto pelo campo do discurso ideológico e encontra novas representações à liberdade, para então, poder agir sobre elas. Em tempos de diálogo e comunicação excessivamente limitantes, transitando no limiar entre a obra e a vida, o que move a artista — até uma tragédia que não pode ser evitada — é a paixão.
— Jéssica Iancoski. Editora-chefe do Toma Aí Um Poema.
Um breve romance. Um desejo. De movimento, sobretudo. De percorrer caminho novo. O livro de estreia de Raul Leonardo chama atenção pela originalidade. O autor nos apresenta uma narrativa em segunda pessoa, repleta de pequenas armadilhas e falsos trajetos. Guiando-nos por uma estrada. Por vezes, sedutora. Por vezes, violenta. Como a própria potência de existir.
— Bruna Mitrano. Escritora e Articuladora Cultural.
*
Raul Leonardo é mais um escritor nessa longa estrada que é a ficção brasileira contemporânea. Ele ainda tem muitas coisas para dizer: você pode ouvir? Cabe a cada um de nós também começar essa estrada... encontrá-la, segui-la, desviá-la... sem nunca esquecer: ama como esse breve romance d’estrada começa.
— Marlon Augusto. Doutor em Teoria Literária pela UFRJ.
"O motorista do veículo onde está responde que, sim, é possível conseguir os utensílios de pintura de que você necessita com urgência. No hotel, depois de esperar durante a hora seguinte à chegada, você recebe um pacote com a tela de linho cuja dimensão média é a que pediu, mais o conjunto de tintas a óleo, pincéis de seda variados e o cavalete. Você pinta e esquece o tempo, e esquece que dentro de tal tempo há a presença do conflito que pode dar fim à vida de Rudolph. Sob o silêncio que as janelas fechadas trazem, você termina esta sessão de entrega ao prazer com que pinta o quadro, e tal obra, que terá o título O fogo demonstrável, é esboço que corresponderá à imagem que sempre desejou."
*
"Você encontra Rudolph em festa dada por conhecido em comum, e, sob o tênue efeito de álcool consumido em quantidade que dá ânimo aos sentidos, você aceita a proposta de Rudolph, para a manhã seguinte. Para Rudolph, você realiza o ideal de beleza que move o jovem artista. Assim como aconteceu contigo, a atração que Rudolph sente por você é física. Na relação que mantém com Rudolph, as palavras são meramente líquidas, o líquido que é desfeito em face à presença do olhar que revela o desejo mútuo. Para dois pintores com ideias excêntricas, o que precede a conjunção carnal é o ato de tomar o outro como objeto de obra, e esta foi a proposta de Rudolph."
*
"Quando conheceu Rudolph, você estava próxima da idade de vinte anos, e este período de sua vida era marcado por percepções que para si eram inéditas, de modo que Rudolph fez parte de tais percepções. Quando pensa em algo, e tal algo faz presença em sua vida durante tempo necessário, este algo passa à condição de motivo para sua criação, e com Rudolph não é diferente. À época do tempo que passaram juntos, ausente o afastamento que permitiria ver com objetividade tal tempo em sua vida, você poderia dar forma a Rudolph somente através do abstrato. O quadro que você faz a este momento, delineando o rosto de Rudolph em imagem que dá a este rosto a expressão de homem que sonha, define o caráter de tal homem."
Raul Leonardo nasceu no Rio de Janeiro, em 1992. Fez estudos universitários em história, literatura e filosofia. Considera-se primeiramente um escritor de narrativas longas. Breve romance d’estrada é seu livro de estreia.