“Dentro do vazio a palavra é atômica” procura estabelecer relações de sentido e/ou nexo entre espaços distintos do universo: homem, natureza, e o próprio universo. Partindo da premissa ontológica de que o ser (humano) é um microcosmo – reproduzindo em seu recôndito determinados aspectos do grande cosmos (universo) cabe a seguinte pergunta: teria o ser a potência (capacidade) de puxar o fio de sentido entre essas duas realidades (micro x macro) tão distantes e distintas, entretanto e simultaneamente, análogas e próximas em alguns aspectos? A imagem dos opostos de uma ferradura - faz-se pertinente e alegórica. Ademais, quem não se impacta profundamente com as imagens naturalmente poéticas fotografadas pelos telescópios espaciais?
O sentimento subjetivo de um “vão” interior possui alguma semelhança entre os espaços vazios ou “buracos negros” ocorrentes no espaço? Não é à toa que presenciamos alguns físicos relativistas retomarem a poesia enquanto expressão artística válida entremeio ao núcleo duro da ciência exata da física. Destarte, este trabalho abre possibilidades de uma jornada poético-espacial – tendo como ponto de partida a condição subjetiva e limitada da existência humana. A palavra – ainda que ínfima se comparada ao macrocosmo – verte sua relevância atômica de sentido coerente do ser (homem, cultura humana, comunicação) que logra superar o não-ser (nada ou vazio).
Rafael Bergson Oliveira Lima é sociólogo, assistente social e também escritor de literatura.
Possui dois contos publicados em coletâneas através de chamadas literárias, que são: I – “Isolados”, no livro “Contos da Quarentena”, “Episódio Suburbano” na obra “Pátria armada: Retratos de um Brasil distópico” editora Acaso Cultural.
Em setembro de 2023 publicou seu primeiro livro autoral de poesias intitulado “Sentimento Famélico” através da editora Toma Aí Um Poema.
I - Nosso par é ímpar
Entre tu
e eu
- lacuna.
Redigimos - esse romance
esvaziando-nos
- um do outro.
Não há
encontro
- nem ponto de interseção.
De mim – de ti
- ausência.
Espartanos fomos
- com nossa estória lacônica
e gélida.
Negamos
elos e anelos
- demais nuances belos.
Tu,
Eu,
enfim - nós
- hiato.
Um ao outro
desencontramo-nos,
nosso par é ímpar,
um somado ao outro
não nos formamos por inteiro.
III - Ataraxia
Amiúde seu alarido
de ruído gutural,
Assevero-me
em mansidão:
Não me rendo ao escarcéu:
nada diz ou ensina,
energia dissipada ao léu,
cólera autocida.
Permito-me
ao silêncio inundante.
Emudeço
para aprender
a dizer.
Precipito ao abismo do silêncio,
esvazio-me dos outros
Meditar
para despertar.
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