De mamando a caducando – sentimos fome. Obviamente, essa fome não é pura e simplesmente aquela que nos vem ao estômago. À medida que nos moldamos de humanidade lá se vai espraiando nossas fomes. Sedentos e famélicos estamos. Justiça, afeto, igualdade social – são algumas dessas sedes e fomes que nos inquietam o coração.
Ademais, são com elas também que nos propomos engendrar um sentido razoável a nossa existência carente e faminta de uma objetivo maior – capaz de nos demover da inércia latente das demandas rotineiras do cotidiano.
Converter a existência em Vida – eis o sentido mais faminto que nos corrói pelas veias do sentimento humano. A arte é uma abordagem que nos promete tal intento. Catarse – como diriam os gregos.
Sentir essas fomes através da poesia nos remete necessariamente ao enfrentamento. Digeri-las – ainda que penoso e desconfortável poderá ser um processo catártico de sentido maior – convertendo nossa simples existência física em vida repleta de bom significado.
A arte oferece os meios e arsenais de enfrentarmos dos absurdos desta existência – sejam eles subjetivos ou sociais. Sentiremos a fome em estados brutos ou metafísicos – através deste trabalho. A saciedade só convém àqueles que já estiveram famintos ou sedentos. Uma leitura catártica a todos e todas!
Rafael Lima veio ao mundo na cidade de Brasília, mas se radicou nos cerrados mineiros – na cidade triangulina de Uberlândia.
É sociólogo e assistente social por formação acadêmica, com pós-graduação na área de Ciências Humanas – escritor de literatura por paixão pessoal. Já foi servidor público municipal e estadual – atuando nas secretarias de educação e saúde. Atualmente é professor e consultor de projetos de sociais.
Possui dois contos publicados em coletâneas através de chamadas literárias, que são: I – “Isolados”, no livro “Contos da Quarentena”, editora Kotter. II – “Episódio Suburbano” na obra “Pátria armada: Retratos de um Brasil distópico” editora Acaso Cultural.
SENTIMENTO FAMÉLICO
Oh desejo famélico,
confesso minha necessidade faminta imediata
de ser humano sedento de sentido.
Defenestro mundo afora,
defronte os olhos secos da sociedade hodierna
essa pletora de sentimentos
que me aguilhoam como úlcera nervosa
…
AO SABOR DA MATÉRIA
Meu sentidos - uma corredeira de fomes
que atravessa poros e olhos,
coração e pulmão.
Todavia,
meu corpo é apenas superfície rasteira de matéria carnal.
Tenho-o como minha aparência
a forma como me apresento
a este sistema mundano de homens e mulheres famintos.
…
GREVE DE FOME
Há um grupo
Que em público
Se põe em estado estático
Sentados sob o chão da praça
Plantados ali como estátuas de gesso.
…