A verdade é que não sei bem como apresentar o livro. O que posso dizer é que o título reflete o meu estado de espírito nos últimos anos. A pandemia. O desconforto com a prisão, o isolamento.
Muitos dos poemas foram escritos antes, durante e depois da pandemia, incluindo no auge da terceira onda, em 2021.
2021 foi um ano trágico (um dos poemas tem esse título).
Perdi meus pais para o coronavírus com o intervalo de uma semana entre um e outro.
A maioria dos poemas que escolhi a partir de uma leva de muitos outros reflete as minhas angústias, o meu luto. Certo desespero e descontentamento com a vida.
Muitos são sobre a poesia, a arte. Escrever é um meio de libertação, de expor a dor.
Escrever poesia é quase uma terapia.
O último poema, inclusive, é bem biográfico nesse sentido. Chama-se “Sobrevivi” e foi vencedor de um concurso de poemas. Fala sobre esse sentimento de ter passado pela pandemia (toda minha família teve o vírus ao mesmo tempo) e sobreviver.
Sobrevivi.
Ainda sobrevivo.
Maximiliano da Rosa é escritor, poeta, e desenvolvedor de aplicativos. Nasceu em Novo Hamburgo, RS, em 1973. Atualmente reside em Imbé, no litoral norte do RS, onde idealizou a I Feira de Troca de Livros de Imbé, projeto interrompido pela pandemia. Como escritor destacou-se ao longo da carreira em diversos concursos e prêmios literários. Entre os mais recentes estão a semifinal do II Prémio Internacional Pena de Ouro na categoria Conto e o IV primeiro lugar no IV Prêmio de Poesia Tavorense, ambos em 2021. No mesmo ano foi finalista do Prêmio Uirapuru, que lhe rendeu a publicação do seu segundo livro de contos “Ofertas Imperdíveis". “a hora de massacrar idílios” é o seu primeiro livro de poesia.
Escrever. Escrever. Se juntar humano novamente escrevendo. Escrever pisando miúdo na casa vazia.- "Houve uma revoada" - nos diz Maximiliano Da Rosa sobre a vida. A vida de todo mundo no mundo todo. Seu novo livro de poesia é sobre existir. Em lacunas. Ausências. Saudade. Sonolência. Os versos são na em sua maioria curtos. Max parece nos dizer que é vaidade desperdiçar tempo já que é breve a vida. Ele sorve sua dor mas não serve a dor. Aqui ele é um Quintana Tarantino que fez as pazes com a poesia para falar da arte da escrita como bálsamo gentil. Livro para aprender da vida a impermanência.
— Everton Luiz Cidade, músico e poeta (autor de Cohab Goya).
*
"a hora de massacrar" idílios apresenta poemas intimistas, reflexivos em sua maioria, e muito bem construídos. O autor explora o próprio fazer poético sem pejo e nos presenteia com lindas pérolas. Saborosíssima leitura!"
— Antônio Carlos Policer, poeta.
saudade e sonolência se confundem
saudade e sonolência se confundem
no fim dia
quando só o que resiste à aleatoriedade
é a fadiga
fico à deriva em minhas próprias entranhas
sentimentos tremulando ao vento da desolação e da saudade
*
2021
dois mil e vinte e um
foi aquele ano
aquele
mal tenho coragem para falar dele
dois mil e vinte e um, seu desgraçado
impiedoso
que simplesmente doeu com tudo e todos
maldito ano
*
vida
Bem-vinda vida, vívida
Vivaz
Eu vi a vida desvindo, desviando
Vi o desvario
Avistei
Vil desvalor
Ventania desavisada e vilipêndios
Vilões varonis
Vivência válida
Vírus e vadiagem
Vários devotos