Inspirada por muitas mulheres e suas trajetórias, Denise Lisboa encontra nas palavras sua sobrevivência pessoal, atravessada pelas experiências mais comuns a todas nós: afetos, maternagem, sociedade em caos e a busca de cura.
Denise Lisboa, nasceu em 1985. É mãe, psicóloga e gateira. Paranaense, não por escolha. Escreve umas coisas quando as palavras chegam, em geral em meio ao caos.
Segue sobrevivendo exausta ao capitalismo tardio e à crise estética que nos assola.
fina pele
sou alguém com sentimentos longos
quando que se instalam, não se vão
perduram por anos
seus rastros, só lentamente se dissipam
enquanto isso eu me arrasto
fico em carne viva
demora a nova pele a crescer
ainda assim, toda em cicatrizes
o mundo é de mudanças rápidas
não consigo me transformar a contento
sou constantemente atropelada
pela fluidez dos acontecimentos
mal tenho tempo de me recuperar
estou novamente exposta
sigo buscando um refúgio que permita
trocar de pele como necessito
enquanto não me adapto ao mundo
se é que isso será algum dia
a mim concedido
até lá continuarei a viver
de memórias à flor da pele
suscetível
*
erupção
queria ser mais leve
virar páginas, como se deve
apagar pegadas graciosamente
dunas, que dançam ao sabor do vento
ao invés de vulcão
fico anos em silêncio
pesada, impotente
em meu topo, neva
por dentro
caldeirão de sentimentos
quando entro em erupção
a transformação vem derretendo
queimo a mim mesma
o caos se instaura
a luz some na fumaça
me perco na escuridão
é difícil ser suavidade
quando se é explosão