mesmo que eu me entenda muitas vezes como o problema causado pela literatura menor ou como o patético poeta que não sabe amar, “sei que quando for verdade você vai saber” é, acima de tudo, uma obra sobre o amor e todas as suas nuances, sobre o quanto e de quantas formas fui capaz de amar e ser amado. enquanto vivemos tempos rasos, exploro neste livro o quão profundo e o quão sincero pude ser com meus próprios sentimentos e alcançar respostas enquanto ser, humano, vago, incerto, grande, inteiro, vazio e concreto. inconformado com a sociedade externa e alheia, busco aqui (e acima de tudo) externalizar minhas emoções mais profundas e me contradizer.
esse livro mente e, da mesma forma, nunca deixou de dizer a verdade. cabe ao leitor escolher no que acreditar e cabe ao leitor descobrir como ele mesmo sabe amar. o poeta nasce mau ou a sociedade o corrompe? ou outros o corrompem? o quanto somos dependentes uns dos outros? o quanto nos humilhamos para corresponder às nossas próprias expectativas?
o quanto a vida pode ser impiedosa e o quanto ela pode ser vil com aqueles que só querem vivê-la ou apenas sentir que estão vivos?
“[...] sei que quando for verdade você vai saber
sei que vamos saber amar
sei que vamos saber sofrer
sei quando as coisas não passam de meros desejos
mas são os desejos que movimentam o mundo e esse mundo sempre foi pequeno demais.”
Alan Henrique Rezende é poeta e universitário. Nasceu na cidade de Cláudio, sob a constelação de touro, em maio de 2003, apesar da família ser de Carmo da Mata e ter morado lá desde sempre. Alan é uma pessoa muito amorosa e supersticiosa, e com o infeliz acaso de ser regido pelo Arcano Maior 12 do Tarot de Marselha, “o Enforcado”, viveu, até então, procurando seu caminho. Encontrou nas letras um abrigo desde muito jovem e por isso começou o curso de Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais no primeiro semestre de 2021 e mudou-se para Belo Horizonte no primeiro semestre de 2022 para continuar o curso depois da pandemia, agora em formato presencial. “sei que quando for verdade você vai saber” é seu primeiro livro de poesia, que contém poemas de amor e poemas existenciais com fortes influências de grandes nomes da Literatura Brasileira como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Vinicius de Moraes.
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um brinde ao abandono
para me provar o quanto sou efêmero escrevo sobre momentos eternos
para provar que estou certo conjugo o errado
porque tentei ser tudo enquanto não era nada
e continuo sendo nada até ser ou ter esse tudo
porque por tanto tempo me fecharam as portas
e com essas rimas tortas tentei abri caminho
porque não aguentava mais estar sozinho
porque não aguentava mais sofrer calado
e por isso fiz de mim o que não soube e ainda não sei
não sei como vou pagar a conta no final do mês
mas sei que tenho em mim todos os sonhos do mundo
mas não tenho heterônimos
na frente do espelho continuo sendo anônimo
sonho contigo dentro do ônibus
ouço as mesmas músicas
choro as mesmas mágoas
engulo em seco as mesmas palavras e
sinto sua falta
porém não mais tenho propostas
não sou Fernando Pessoa
não sou pessoa nenhuma
não sei como tenho licença poética
para no azar ou na festa
escrever sobre você
e hoje tudo é um frenesi
porque há muito já não sei mais partir
e o que mais me acresce ainda me falta
tudo o que eu quero é ter você de volta!
ainda clamo por piedade
porque ainda sinto essa saudade
incessante na porta do peito
reclamando pelo que não é meu por direito
mas sei que nada disso é verdade
e que quando for verdade você vai saber
porque eu conheço você.
(porque você é a única que eu conheço)
e hoje tenho um contrato com a boemia
para esquecer das suas mãos frias
e escrever a nossa história
porque hoje tenho lapsos de memória
e não quero mais me esquecer
mas tudo o que sei fazer é esquecer e
nunca me lembrar dos malditos porquês.
por isso um brinde ao abandono
porque hoje não mais te amo
desde que eu esteja bêbado em um lugar qualquer.
porque, porque, porque, porque, porque, porque,
você sabe o quanto eu minto
você sabe como eu me sinto
você sabe o quanto eu nego
você sabe como me entrego
você sempre soube de tudo
você sempre quebrou os muros e fechou as portas
mas nada disso importa
nada disso importa agora
porque deixarei esses versos
mesmo que nós encontremos no inferno
outras histórias de amor.