Três faces de solidão é o segundo livro de poemas de Douglas de Moraes, quase todos compostos durante o isolamento da pandemia. Nessa obra, os poemas falam da solidão – que ora é personificada como uma divindade feroz e impiedosa, ora é vivida e experienciada como o mais sublime dos estados de espírito.
Através do diálogo entre poética e espiritualidade, o autor traz imagens e reflexões que falam daquilo que é mais divino, mas solitário, na experiência humana contemporânea: o cotidiano, o isolamento, as relações amorosas de toda sorte e a busca pelo sentido."
Douglas de Moraes é natural de Bragança Paulista, São Paulo, mas seu coração se divide entre sertões - de Minas ao Tibete, gosta é de espaços amplos, onde o vento dança e faz sua poesia invisível na folha da árvores, nas curvas das montanhas. É casado, tutor de dois cães, e ama cozinhar – com a convicção de que largará tudo para abrir um restaurante.
Formado em Letras e Mestrando em Teoria Literária pela Unicamp, atua como professor, e desde sempre escreve contos e poesias.
Publicou, em 2020, seu primeiro livro - “Descontos Poéticos”, uma antologia de poemas. Nos últimos anos, inspirado pelo retiro forçado, aprofundou sua criação poética, e assim nasceu “Três faces de solidão.
Admirador de Guimarães Rosa e Manoel de Barros, acredita que a reinvenção da linguagem pela via poética é o que nos salvará a todos, amém.
Jardinagem
eu escolhi o apartamento dos manacás
porque você gostava de flores
e fomos felizes
e bobos
porém não tardou
cortaram a árvore
e você se foi também
amor podado
hoje o manacá floresce
mais uma vez
mas eu sigo triste
nem tudo são flores nessa vida
-^-
Observatório
eu rasgo dias
e não dou mais nó
remendar a vida
é pros que ainda acreditam
observo
aqui perto
lembro sempre
tem uma mulher que veste
vestido de não poder
ela anda bonito:
um pé depois do outro
passarela interrompida
olha pra baixo entre
borboletas e artimanhas
e planta passos
de ir embora
eu devia aprender
caminhar sem deixar
rastros na vida alheia
-^-