Atrás das serras, onde o sol se põe e os pardais cantam nas janelas pelas matinas, germinam as inspirações poéticas de uma jovem escritora. Esta que dá vida e cor a Um punhado de poesia: daqui, de lá, seu primeiro livro de poesia. Composto por poemas curtos baseados nas memórias, retratam o seu lugar, Serrinha, cidade do interior da Bahia, além de suas inquietações e perspectivas sobre as opressões sociais. São poemas que acalentam a alma e promovem provocações profundas, dessas que vasculham as mentes. Convido todos a embarcarem nessa jornada literária, enraizada no solo fértil da Bahia, regada de axé e dengo ancestral.
Derivânia Santos é mulher preta, poetisa, contista, Pedagoga e Pós-Graduada em Coordenação Pedagógica. Oriunda da zona rural do município de Serrinha – Bahia. A sua escrita é voltada para as questões de raça, gênero e desigualdades sociais, dialogando com as realidades da região do Sisal. Possui poemas publicados nas antologias: Poetize 2021: seleção poesia brasileira (2021); Escrevivência: a negritude em evidência (2021); A poética da Resistência (2022) e Mulheres (2023). E um conto publicado na antologia de contos, Vozes da Margem, Vozes na Margem: Narrativas Fora de Centro (2021).
Campo esverdeado
Do canto da cerca corroída por cupins,
és o ponto de partida,
cancela desmembrada.
Campo retinto,
mapa destino dos confins.
Labirinto esverdeado
sobre o céu descorado
no seu espreito horizonte.
Arames enferrujados,
retalhos de tecidos suspensos.
Despojados corpos do mundo.
*
Inverno
Pinceladas de chuva na janela.
Ruínas esfaceladas.
O céu cinza enamora a serra.
Das lacunas na terra,
correm rios provisórios.
Rastros de águas raivosas,
caminhos notórios.
O caule renascente floresce em silêncio.
Resistente!
Sobre a cerca inundada em águas negras.
*
A caixa
Quatro lados de um mesmo espaço,
encalço as tuas pegadas.
O teu olhar entre as sombras.
Os lábios fechados e secos.
E a mão a desfolhar a rosa.
O silêncio amarra-me sem nó.
A voz aqui dentro grita, suplica:
és uma de nós.
Em mãos nada tenho,
frias, a embaraçar os dedos.
Na boca um gosto amargo de medo,
e o corpo em choque.