Acendi as velas é o livro de estreia de Beatriz Rodrigues, autora mineira que, por conta disso, materializa a atmosfera cultural de suas vivências na exploração poética de sua escrita – sem, no entanto, cair em estereótipos regionais. A autora aborda questões universais, como a busca por pertencimento e pela descoberta de si, se debruçando em paisagens e elementos da natureza e do cotidiano feminino.
A partir dessa relação entre imagem, percepção e territorialidade, o livro mistura tonalidades distintas como o azul (que aparece no mistério das águas e na profundidade tempestuosa), os alaranjados (que se misturam com o rosa para anunciar uma esperançosa notícia de que a vida se encaminha para seu desvendamento), o verde (que anuncia os ares da espera), os cinzas (das paisagens que se rompem); até avançar a vermelho (que também se desbota na ilusão de que todo o mistério pessoal se resolve na nostalgia do passado, no colo da avó – é no ambiente do interior, que também é o interior de si, que a compreensão se torna latente: é preciso movimento presente).
Partindo dessa necessidade de movimento, o livro se divide em três capítulos: I. Em mar alto um azul profundo; II. Clarão laranja e rosa; III. Muito tempo na mesma estação enrijece os trilhos. Essa construção é erguida por poemas que, inicialmente, expõem o enigma da vida, e que, depois, se focam no universo de memórias coloridas por tudo o que as compõem – as estações do ano, a espera de floração, as cores das roupas indicando etapas da vida, os elementos religiosos se transformando conforme a presença da cânfora anuncia o que é necessário para seguir adiante; para, finalmente, a decisão de viver outras estações – estações do ano, estações que desbravam os trilhos do trem.
Beatriz Rodrigues nasceu em Belo Horizonte (BH). É formada em Administração e especialista em gestão de projetos. Participou de antologias de poemas e crônicas.
Às vezes azul, às vezes verde-esmeralda.
Em mar alto um azul profundo, melancólico, balança as águas e a espuma
que se forma e desmancha.
A ventania dá rumo aos barcos e aos cabelos: penso em me deixar levar pelas ondas
um corpo solto apenas sal
mar e rosto.
Não sabia a direção dos ventos e a posição das velas
mas partiu
Um bote pequeno e o mar
imenso.
O tempo atravessa a brisa
e com um golpe me alcança Percorre memórias
busca lembranças
Seu cheiro impregna meu vestido
— É você!
Levanta meu rosto rodopiando comigo.
Abro os olhos
e vejo a ventania.
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