Esse livro foi escrito por alguém que não é mais eu. Ou melhor, foi escrito por alguéns: os meus eus de 13, 14 e 15 anos. A verdade é que para ser o que sou hoje eu devia algo a esse serzinho bem no meio da adolescência. E é isso que é esse livro: um presente para o que eu fui.
Evidentemente, essa batalha cheia de tensões do presente e do passado me fez deixar passar um monte de textos com abordagens que eu não mais me encaixo. Mas essa é a tensão entre criar o agora e respeitar o passado.
Para você, leitor, essa é a história da minha personagem autora, na sua inconformidade com as desigualdades do mundo, no descobrimento de sua impotência e depressão, e no caminho de cura, em um recrudescimento de tudo o que forma um só indivíduo.
Como bem disse Drummond, eu não queria ser poeta de uma mulher - e nem de nenhuma pessoa, não queria falar de amor, mas do mundo. E, nessa busca por fugir do sujeito, acabei escrevendo de uma mulher: eu mesma.
Por essas razões, esse livro foi dividido em três partes:
A primeira, em que a autora encontra o mundo, reconhecendo suas injustiças, mas ainda com esperança na ação humana.
A segunda, em que a autora descobre a sua pequenez e da humanidade, de modo que o mundo vem de encontro à individualidade e seus problemas. Esse período foi um período de crise criativa e filosófica: para que viver em uma realidade débil e imutável?
Por fim, a terceira parte, em que a autora aceita sua pequenez e reconhece a importância e os dilemas da vivência individual. É um reconhecimento de que os dramas emocionais são problemas igualmente legítimos e de tanta magnitude e importância que os grandes problemas do mundo. Não é que sejamos especiais, mas que nossas emoções são universais e, portanto, a vivência de um pode impactar a do outro, nem que seja pela empatia, pela hipocrisia ou hipocondria.
Em resumo, esse livro marca a trajetória de uma pessoa para encontrar o motivo e destino da sua própria vida.
Como eu mesma definiria há uns 5 anos, esse livro se pretende um enigma do próprio ser. O desafio de existir enquanto se descobre pessoa no mundo. Essa vivência é da mais universal e, como eu ousaria dizer, atemporal. São pensamentos que todo indivíduo tem e é um caminho de vários tropeços na sua própria verdade.
Amanda Abbud Rodrigues da Costa é natural de São José do Rio Preto/SP e atualmente reside em São Paulo. É estudante da Escola de Direito na Fundação Getúlio Vargas. É coordenadora do Coletivo de Estudos em Direitos Humanos da FGV, em que realiza diversos trabalhos envolvendo a temática ambiental e de violência policial. Atualmente, trabalha como estagiária na área de Direito Ambiental.
Desde a infância, buscou levar a arte como um hobby muito sério, tendo participado de aulas de escrita criativa, teatro, artes plásticas e música. Na escrita, desenvolveu um trabalho que hoje dura nove anos, rascunhando poemas e crônicas, que hoje busca publicar.
Que dizer de um País
Que dizer de um país
onde senador drogado
fala um papo enrolado
sobre uma nação por um triz?
Que dizer de um país
onde a República é impura
e pouco crime se apura
na cidade matriz?
Que dizer de um país
onde em mais de um mandato
encontra-se o gatuno no ato
de roubar dinheiro do infeliz?
Que dizer de um país
onde mulher no plenário
é tratada como meretriz?
Pior que dizer, é não dizer nada
pois onde o silêncio consente
a palavra acaba.
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