Isso aqui começou do nada. Foi sem querer, sem a menor pretensão. É meu primeiro livro, primeiro tudo – talvez primeiro e último. Sofrer está fora de moda, eu sei. Mas isso aqui me fez sentir, e sentir é a única coisa que sei fazer. Mergulhei, deixei a correnteza me levar e afundei, afundei, eu me afoguei.
Comecei essa coleção de poemas com 19 anos, terminei com 22. Fiquei obcecada, viciada nesse mar de loucura que a história me causou. Me apaixonei por seu enredo, seu cenário, as cores, os símbolos. O personagem. E era tudo intocável, intangível, fruto do que consigo lembrar. Não sobrou nada para contar história, só essa coleção de memória que fiz tanta questão de guardar.
Três anos depois, finalizei o que, na verdade, concluí não ter fim.
Isso aqui é um ciclo vicioso entre o desejo, a esperança e a frustração. É uma leitura carregada de espera e solidão.
Isso aqui é sobre amar, só. E amar só.
E se me deixei afogar, foi sem querer.
Mas ainda não sei não ser assim: completamente entregue.
Mariana Mariotto tem 22 anos, mora em São Paulo e frequenta o município de Ilhabela, cenário de seu livro de estreia 'Amar Só'. Formada em Jornalismo, é também estudante de História da Arte e produtora de conteúdo digital. A escrita criativa é o meio que encontrou de compreender momentos específicos da vida e por isso grande parte de sua obra é dedicada à memória e ao passado.
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[07/07/22]
meu bem, quem sabe
numa próxima vida
instante
momento
saudade
meu bem, quem sabe
se os ventos soprassem
a favor
eu moraria em seu fuso
seu corpo
e amor
quem sabe
se eu não tivesse cortado o cabelo
se eu tivesse chorado menos
quem sabe
você não teria partido
e eu teria morrido menos
quem sabe se eu fosse
a trincheira mais profunda
um coral em extinção
as tripas de um peixe qualquer
quem sabe assim
você se interessaria mais por mim