Um aguaceiro só é um livro que quer transbordar palavra.
O título remete a um jeito de expressar uma chuva muito forte. Chuva que vem com tudo e corre rápido para se juntar a outras águas, sempre em direção ao mar. E é assim, como a água que passa rápido, que eu quero escoar os silêncios nesse meu primeiro livro.
O livro Um aguaceiro só é separado em três partes: Nascente (ou O olho-d’água); Estuário e Oceano.
A primeira parte do livro é a Nascente (ou O olho d’água) por ser onde a palavra e a poeta se mostram ao mundo. Não é o início de tudo. Não há início. As águas de um rio não nascem na nascente. Antes de nascerem aos olhos do mundo, as águas se movimentam em caminhos profundos, sempre em direção a uma saída. Na nascente elas simplesmente minam.
A segunda parte do livro intitulada Estuário é onde as águas de encontram. O estuário é o lugar onde não há rio nem mar. Os dois corpos líquidos se confundem e formam água salobra, lugar de fertilidade. Nessa parte do livro a palavra ganha um erotismo próprio das pororocas.
A terceira parte do livro é o Oceano. A água e a palavra sempre correm para a imensidão. Essa é a desembocadura, mas jamais o fim. Assim como não existe início, não existe fim. Existe o devir apenas, o movimento, as ondas, as marés. Nessa parte do livro existe dor, mas existe principalmente o desejo de que a palavra pulse ininterruptamente em direção a um novo mundo.
Roberta Lantyer tem 32 anos. É soteropolitana e bancária por sobrevivência, bacharel Interdisciplinar em Artes e mestra em Literatura e Cultura pela UFBA. Não vive sem café e antes dele não é boa companhia. Gosta livros, trilhas e de água: seja do rio, do mar ou da chuva. Escreve para desopilar e deixa-se fluir no papel. Escreve porque a tarefa de tentar entender o mundo parece menos insana na palavra desenhada. É autora da Newsletter (gratuita): “Poesia se vende”. Publicou sua primeira poesia na antologia bilíngue da Editora Lura, “Onde Canta o Sabiá” (2022). Faz parte da equipe de poetas do Portal Fazia Poesia, disponível no medium.com. Além de Um aguaceiro só, quer publicar um livro infantil e ser levada para onde mais a palavra resolver lhe guiar. Enquanto isso, aproveita o caminho e tenta não se perder.
Paridura
a palavra
que me falta
aqui entalada
presa na garganta
onde o ar passa devagar
a palavra que
me falta
nesse mundo
insano
entre a pele e a carne
se movimenta
dura
seca
afiada nos ossos
a palavra que me falta
gestada em muitos ventres
expulsa
peixeira
rasga
sangra
e grita
como criança
parida
*
Corpos-rebentação
Depois de sermos tempestade
Toró de verão
Deságuo
E meu corpo-onda flutua
em mar calmo.
*
Falo
Essa carne no meio de suas pernas
não te dá poder sobre mim.
Não te faz ereto,
forte.
Não me faz mola,
molde.
Carne por carne eu também tenho as minhas.
Linhas castrantes
no meio das pernas.