Lucas Luciano, em seu livro de crônicas Aos que Sentem Demais, apresenta uma coleção tocante de cartas fictícias trocadas entre dois amigos, revelando a profundidade emocional e a intimidade das palavras. Esse panorama poderoso aborda o isolamento, as relações humanas e as nuances da existência durante a pandemia. A escolha narrativa permite que o leitor se sinta como um observador próximo das confissões do autor, criando uma conexão emocional intensa com o texto. O autor adota um estilo epistolar que evoca um tempo em que as cartas eram o principal meio de comunicação, infundindo suas palavras com uma sensação de nostalgia e introspecção. As cartas, datadas entre março de 2020 e novembro de 2021, revelam as camadas de emoções, ansiedades e reflexões sobre a vida em um contexto de reclusão através do personagem do autor. A escrita é marcada por uma sinceridade brutal, que não evita os aspectos mais som - brios da experiência humana, mas que, ao mesmo tempo, encontra beleza e poesia na dor. A linguagem é rica e evocativa, uti - lizando metáforas e imagens que conferem uma qualidade quase lírica às suas palavras. Lucas Luciano explora de forma sensível e honesta a questão da saúde mental, evitando clichês ou simplificações. Suas descrições das crises de pânico, da ansiedade e da depres - são são vívidas e comoventes, transmitindo a complexidade e a intensidade dessas expe - riências. A honestidade com que ele aborda suas próprias vulnerabilidades é um dos aspectos mais cativantes do livro.
Lucas Luciano éum jovem escritor nascido e criado na favela Morro do Castro, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Sua jornada na escrita começou na escola, impulsionada por uma professora de português da rede pública, que despertou seu amor pela poesia. Diante desse despertar, Lucas decidiu seguir o caminho do jornalismo, alcançando uma bolsa integral para estudar na ESPM Rio, uma das principais faculdades de jornalismo do Rio de Janeiro. Inspirado por grandes escritores e compositores, como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Emicida, Lucas vê a escrita como uma forma de sangrar e testemunhar suas experiências, especialmente o desafio de cres - cer entre a pobreza e a realidade da favela.
Querido Emocionado,
É com o coração transbordando de gratidão e alegria que me aventuro nas linhas desta carta, como um pintor diante de uma tela em branco prestes a dar vida a algo grandioso. Neste período de isolamento, onde a solidão às vezes teima em se instalar, encontrei afago na arte e nas cores que tu gentilmente compartilhaste comigo. [...]
A maioria pode enxergar a vida como um mero fluxo de dias, mas para nós, artistas, cada manhã é uma busca apaixonada pela essência que permeia cada instante. Olhamos para o mundo com olhos que vão além da mera observação; capturamos vivacidade e fluência onde outros veem monotonia.
A vida, caro Emocionado, é uma tela em branco que espera ansiosamente para ser preenchida por nossas mãos criativas. Com nossas paletas internas, pintamos os dias com uma mistura única de experiências, transformando momentos ordinários em obrasprimas de significado e beleza. [...]
Com alegria e poesia,
Seu amigo.
Livro Aos que sentem demais
Crônica - Literatura Brasileira
70 pág. - 1° Edição - 2024
ISBN 978-65-83046-06-2