Miscelânea de estilos, métricas, imagens, materialidades semióticas, referências de poetas e outros artistas e outras esferas de produção; palimpsesto de versos verbais e imagéticos que se repetem - ipsis litteris, em partes, ou somente em alusão, do próprio autor ou de outros - mas que se diferenciam para vivenciar outros sentidos e outros afetos; panóplia de possibilidades de criação poética... são encruzilhados para iluminar, obumbrar, chocar, deleitar, a toa, fundir tempos, espaços, sujeitos, possibilidades e impossibilidades, confundir fronteiras, atrair mais as que duas margens obnubiladas abissais para excitar inspirações, transpirações e fugas do dado e delírios encontrados no esdrúxulo íntimo do belo do sábio do paranoico do revolucionário do que passa e não se vê e da vontade de oferecer algo que expurgue esconjure sensibilidades doentias e escravizadoras. Isso tudo do jeito que dá, inventando maneiras baratas de publicar e se aprofundando nas poéticas consagradas e marginais e experimentais e soltando o verbo como no paroxismo de um grito numa pilora de desespero e sobriamente consciente do que se está fazendo. E no meio saturação, vertigem, descentramento do feito, relativização do novo, encruzilhadas e fendas a beira de buracos dislalias gagueiras lapsos monumentos vislumbres alucinações encantos as vozes e os corpos do poeta saltam, não necessariamente em compasso, para encenar o aedo, o bardo, o vate, o bobo, o sátiro, o xamã, a musa, a lira, a sibila, a santa. Tempestade verbal, mutação e clínica. Eis mais um livro: voos subidas derivas.
Interessado em problematizar as possibilidades da criação experimentando as diversas possibilidades poéticas: forma, conteúdo, estilos e escolas executadas, pensadas e/ou ainda impossíveis e a se inventar, escrevo poesias, algumas publicadas em revistas como Barata; A festa; By Serendipity; Esperançosos; horológio (Revista Berro); este reclama um heroi; O poeta e o nó (Revista Desenredos); A rica muanbeira (Revista Literalivre); amo amar (Revista Simbiótica), Hora Extrema (Revista Arcádia), a coletânea παρένθεσις (Revista Caleidoscópio: literatura e tradução), uma de poesias verbovisuais (Caxangá); também vivencio a poesia verbovocovisualmente (cf. em : https://youtube.com/channel/UC9x0rwVC1mDUo4IJkXVVz2w). Meu primeiro livro é A poesia para: outra poesia, dentre tantas (A Poesia Para: Outras Poesias, Dentre Tantas — Marcos Roberto – Livros Livres (tomaaiumpoema.com.br).
eu não posso estar aqui
eu não sou quem fala aqui
este instante não é o de agora
não contam eu você o terceiro o fora
o julgamento que vale
me transborda e lhe transborda e os transborda
tanto quanto varre as bordas
em que se divisam as perspectivas
que cartografam aquilo que pode
ser possibilidade e
impossibilidade de.
Toda coordenada sobra
algo uma fissão empuxo expurgo
o pulo do gato
ou qualquer coisa condutor
de um inevitável inviável
por sorte de que há
um eu que fala aqui nesse instante
quando a poeira descerra o flanco outrora
preenchido e a se preencher
de sol sal mar e menos
*
παρένθεσις
escreve porque
pe(r)de-se a mão
*
O Coxo
De tendências confusas miscelânea;
Ébrio sóbrio de verve vacilosa;
E fugaz; momentâneo; bem efêmero;
Descontente infeliz. – Do que tão triste.
De passo certo apenas a derrota;
Da glória incerta sem uma ilusão,
Apesar do sorriso frouxo em rosto.
Ciente que aplauso é sempre interessado.
Deslocado entre vagos mais espaços.
Revelado, porém (quão profundíssimo),
Que é desgraçada a vida desgraçada.
Eu, entretanto, vou passando, vivo,
Amante mui sincero, mui honesto,
Coxeando – somente coxeando.