Na estranha imagem entre nós - Leonardo Menegatto
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O Livro
Diante do fim de uma amizade marcada pelas diferenças de origem social, o protagonista passa por um processo de autoconvencimento a partir de seus atributos de pragmatismo, materialismo e modernidade. Envolvendo sua relação com a namorada, seus pensamentos chegam a um ponto de confusão mental, cuja despersonalização é traduzida de forma física na manhã seguinte: seu reflexo desaparece do espelho. Tomado de terror, o personagem explora a vergonha, o orgulho, a culpa e a inveja na descaracterização que sofreu. Na estranha imagem entre nós, é um livro de realismo fantástico, em que o relato se confunde com os julgamentos difusos do narrador, na forma de um monólogo interrompido por poucos diálogos.
O Autor
Leonardo Sartori Menegatto é natural de Americana, interior de São Paulo. Acostumado a escrever desde criança, formou-se em Engenharia Agronômica e fez mestrado e doutorado em Genética. Cansado de ler e redigir apenas artigos científicos em sua carreira cartesiana, em 2024 lançou o livro infantojuvenil A fantástica aventura de Ferdinando e quem eu lá conheci. Tomando gosto pela escrita literária, terminou o segundo livro, participou de duas antologias de ficção – uma de fantasia e outra de terror – e agora explora a prosa poética em Na estranha imagem entre nós, na qual percorreu seus sentimentos e interpretações sobre os conflitos da personalidade.
Trecho do Livro
Tudo começou em uma sexta-feira porque, diante da tragédia, depois se sucederia o dia do silêncio. Do choro contido. Da consagração sem festa. Mas, diferentemente do Rei, não sei se seria possível algum renascimento depois disso. Não haveria redenção de pecado algum: era o pecado que se revelaria. O monstro sádico escondido pela ausência de refração. [...]
A partida do meu amigo foi consequência da saída à francesa recorrente, ainda que não periódica. Nenhuma traição pode seguir um padrão, pois, descoberto o período, é desnudado o traidor. E, então, a saída à francesa não foi rapidamente descoberta, mas se prestou para, enfim, sair. A saída à francesa não foi eficiente, mas acabou por ser, para seu propósito, um meio eficaz de saída. [...]
Ele era um rapaz de certa rusticidade delicada, talvez porque - como dissera o homem do retrato - detrás da coisa mais delicada havia sempre alguma coisa de trágico. E no fim, por sua inocência, como amigo que acreditava na eternidade da nossa irmandade, ele exibia uma alma impoluta. Como aqueles pobres coitados de avançada idade que continuamos a nomear de meninos. Uma delicadeza galgada na ignorância. Era isso!
Se ele aceitasse, eu poderia exaltar sua inocência como se exaltam os pombos quando se representa o Espírito Santo. Ele era um eterno menino. Como quando jogávamos bola no campinho de terra, sem qualquer outra preocupação. Mas as novas preocupações da maturidade forçavam meu movimento em posição diversa. Minha nova figura de homem não podia mais conviver com aquela figura de eternidade de menino.
Partiu
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