Estamos todos debaixo do mesmo céu, olhando-o de pontos diferentes no tempo-espaço. Pensamos que olhamos para ele, mas talvez seja ele que nos olhe, sempre novo, sempre o mesmo e ainda assim sempre imprevisível e em constante mudança. Talvez seja isso que nos torne parecidos. Olhamos para o céu ao amanhecer ou quando o sol se põe, na noite estralada ou cinzenta, nos dias de chuva, nas horas apaixonadas, quando amamos ou sofremos, nas manhãs felizes e nos domingos mortos, nas travessias e viagens, pela janela nas noites em que dormir é difícil e mesmo nos sonhos ainda é possível vê-lo. O céu de dentro às vezes reflete o de fora, ou vice e versa, e as tantas emoções, momentos e suas impermanências. Como primeira publicação, pensei em muitos nomes que evocassem essa natureza de mudança e oscilações, de reflexão, de amores e de memórias (as gravadas nas linhas desses versos e as inventadas), que pudesse ser composta por poemas diversos e onde coubessem diferentes faces e fases desta autora que vem se arriscando nos versos desde que lembra que escreve. O céu tem um tanto de luz e escuridão, um tanto de paciência e pressa, de água e ventos, de calmaria e tormenta, de romance, de lua e estrelas, tem seu próprio ritmo e lógica. Essa também é a natureza dos poemas aqui presentes. Foi contemplando o horizonte que muitos desses versos transbordaram até chegar aqui. O Céu de Ontem é um convite. Por isso se acomode em seu lugar mais aconchegante, sirva um café e vem apreciar a vista, que o instante já virou memória e seremos diferentes amanhã.
Entendo-me artista por vocação e ofício. É na arte que me encontro e através das suas múltiplas formas de expressão que sinto exercer meu papel e lugar no mundo. Poeta por amor e necessidade, criatura imaginante, a mãe, a filha, a irmã, a amiga, a amada, a estranha, uma mulher em construção reinventando a si mesma todos os dias. Baiana. Figurinista. Maquiadora artística. Bacharel em Interpretação Teatral e mestranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Como poeta, tive o prazer de participar da coletânea independente Encontros Poéticos - Universos e Quintais lançada em 2022 publicada através da Editora Mente Aberta, também fui selecionada entre os poemas participantes da coletânea Poesia Instagramável da Editora TAUP (Toma Aí Um Poema). Sou uma dessas criaturas que nunca deixa de olhar para o céu, mas pode me chamar só de Ramona mesmo.
Náutica
Um pouco de mar
Para esse meu coração de oceano
Nele cabe todo o amor
Nele cabe todo o querer
Levo comigo tudo o que sinto
Na memória da pele e do corpo
Escrito na alma e nas lembranças
Meu coração tem seu ritmo como as ondas
E no meu olhar
Cabe todo o horizonte
*
Distração
Papel e caneta na mão
Caminho a esmo
Contemplo o céu
E me pego tecendo versos
Quando me dou conta
Da primeira a última linha
Fiz outro poema para você
*
Um Tanto (trecho)
Por enquanto
Há algo de vacilante aqui dentro
Pois tem um tanto de saudade e pressa
Um tanto de vontade e urgência
E um tanto maior de silêncios
Há que se ter paciência
E onde as palavras não cabem
Talvez caibam os abraços