Em O rosto do mundo, proponho um trabalho que sinaliza uma espécie de cartografia do eu, onde se manifesta a partir de cada poema uma possibilidade de interlocução de um “eu” com outros “eus”, desempenhando, assim, pelo gesto escrita/leitura, um exercício indissociável. O percurso feito no decorrer do livro exala através de cada poema uma tentativa de trazer pra fora as instâncias de dentro, num gesto quase de exorcismo pelo poema.
Se em cada “eu” configuram-se mundos distintos, o presente livro faz-se de máscara lírica provisória para cada leitor. Evocar poemas que exorcizam “coisas de dentro” pela linguagem cria uma tentativa de dar forma ao disforme.
A desinteriorização articulada incita rotas de leitura que deslizam num ir e vir refletindo questões que se sustentam na forma que o pensamento às vezes toma, na relação com o poema, no afeto e na língua(gem). Em cada uma dessas questões exemplares busco cutucar o verso com vara curta, até feri-lo, até dilatá-lo, e assim tentar chegar ao núcleo de alguma coisa que eu ainda não sei o nome. Mas que me lembra um rosto tentando tomar forma. Um rosto como de um mundo que ainda não se fez.
Sou o Felipe Matheus, da cidade de Nazário, localizada no interior de Goiás. Minha graduação é em Letras e no momento sou mestrando em Letras e linguística. A escrita literária pra mim presume correr alguns riscos. Gosto da plasticidade que a literatura me oferece para poder assim criar mundos e rostos para esses mundos. Recentemente decidi tirar algumas ideias da gaveta e compartilhá-las. Assim, criei ano passado um “livro.pdf” intitulado Não deem nome aos caracóis, que eu fiz circular entre amigos. Este ano propus um “livro perfil”: correspondências unidas jamais serão esquecidas que pode ser conferido em @correspondencias.esquecidas.
Tudo parece mesmo meio
Arranjado
Dentro
Da minha cabeça
O meu cérebro
Massageia imagens estagnadas
Turvando ondas
Esmiuçando letras
No fundo sempre um eclipse
E os olhos
Bem abertos
Para engolir o que der na teia
De aranha
Capturando gestos promissores
A cor
De uma camisa
Um jeito de sorrir
Um número esquecido
Uma outra vida planejada de dentro
Pra
Fora
Matutando ideias loucas
Enlouquecendo Hamlet
Rasgando véus
Traduzindo sonetos inteiros
Bifurcando os caminhos exatos
Tornando-os chulos
Os pensamentos borbulhando lentamente
Estourando como fogos de artifício
Me desejando como ninguém
Eles querem
Que eu me aproxime
Um pouco mais
Tirando minha pequena paz
Como uma gota de orvalho
Que
Reluz aquilo que sou e deixo de ser
Meus pensamentos querem me corroer
Me corromper
Oh então me entrego
Nesta
Entrega absurda
Conto nos dedos quanto tempo ainda resta
Pra chamar alguma imagem de minha
Porque tudo se dobra e desdobra
Em busca de
Justificativas e símbolos maiores ou menores
Símbolos que precisam de minhas sílabas
Das sílabas de meu nome
Como num
Pacto errado
Uma mala sem viagens
E eu esperando o momento de respirar
Aquilo que poderia ser meu
Mas
Estilhaça-se na memória do agora
Um vento
E tudo está no chão
Papel caneta e coração
Lá fora um carro estaciona
É hora de voltar
“PARABÓLICO”
Poema bobinho
Parecido com as raízes molhadas
Das árvores.
Submerso.
O olho que precipita
Um inferno verde
Como os cabelos de Medusa
Esperando esperando
O próximo passo para a petrificação absoluta.
Enroscando minhas pernas
meus braços
meu tronco
que se inclina para frente
e para trás.
Tantas palavras entortadas
pela tempestade!
Frutos podres povoam o chão da sala de estar.
“Deve ser isto: deixei as janelas abertas!”
E parece tão bobinho
Poema-piada
Mas oh imagem chamuscada
E terrível!
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