"Quase todos os ossos não foram quebrados
Quase todo café da manhã foi feliz
Quase todos tiveram seu sonho sonhado
Só quem foi escolhido que foi visitado"
(OSSOS, Macloys Aquino / Salma Jô.
Banda Carne Doce)
Pensar no futuro tem sido uma tarefa muito complexa. Ora ele me parece óbvio, ora eu acho que tudo será surpreendentemente mais distópico do que todos os filmes já me mostraram. E, às vezes, eu não sei se esse futuro vai chegar a acontecer. E que talvez o futuro seja mesmo o agora e só.
Ossos é um compilado de poemas escritos desde 2020 até o ano de agora, 2024, que expressa muitos sentimentos que me despertam quando penso em como será a vida e o mundo daqui pra frente considerando como o mundo e a sociedade tem se comportado desde a pandemia da Covid-19, que ao meu ver, despertou muitas reflexões sobre vida, morte e finitude. A finitude da humanidade e a finitude do planeta.
Leticia Negretti tem 32 anos. É atriz, dramaturga e poeta. Formada no curso profissionalizante da Teatro Escola Célia Helena e em Bacharelado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac. Criadora do espetáculo "Beberei Menos Se Me Amares Mais". Publicou seu primeiro original de poesia em 2021, com o mesmo título de "Beberei Menos Se Me Amares Mais", pela Editora Voz de Mulher.
ASSADO
Queria que o tempo
Fosse palpável
Como massa de pão
Pode esticar
Pode encolher
Pode engolir
Só não pode esquecer
Nem no forno
Nem na forma
Nem nos dedos
O tempo escapa
Pelos meios
Pelos cantos
Pelo espelho
O tempo ri
Do meu desespero
*
SPOILER
Como será o ritmo
Dos anos 3000?
E as danças?
E as divas?
Qual vai ser a bebida favorita?
A droga do momento?
Vai ser sintética?
Natural?
Digital?
Quem serão os habitantes da Terra?
Quem serão os habitantes de Marte?
Já compraram o passe
Já nos jogaram pra fora
Já decretaram
Quem morre
Lutando por sobra
Mas mesmo assim
Eu queria saber
Como vão ser
As canções que eu vou perder
*
AUTÓPSIA
Eu não serei
Bem vinda
Na nova era
Não vão
Colocar valor
Na carga
Que minha cabeça
Carrega
Vão dispensar meu cérebro
Vão trocar por placas
Vão apagar minha voz
Para ligar as máquinas
Vão destruir minha retina
E colocar um chip
Vão me dar um coração de lata
Que não batuca
Não chacoalha
Não esquenta
Não atrapalha
Bem-vindo à loja oficial da Editora Toma Aí Um Poema (TAUP), um espaço dedicado à celebração da literatura em suas múltiplas formas e vozes. Desde 2020, publicamos e promovemos obras que desafiam o convencional, oferecendo um catálogo diverso que valoriza autores de minorias sociais, incluindo mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas, neurodivergentes e outras vozes historicamente marginalizadas. Aqui você encontra poesia, ficção, ensaios e publicações que transcendem os limites do tradicional.