Fogueirinhas - Ana Letícia Lima da Silva

O Livro

O livro Fogueirinhas, trata-se da primeira obra autoral organizada com a finalidade de publicação por Ana Letícia.

O título escolhido para dar nome a obra faz referência ao poema “O Mundo” do Eduardo Galeano, em que dentre os muitos motivos para tal nominação, está a ideia de somos todos fogueirinhas, e como quem deseja um mundo feito para o povo, imagina “um mar de fogueirinhas”.

Sendo na poesia o lugar onde se encontra e encontra suas referências para continuar trilhando, como também se utiliza como ferramenta de luta popular, vista pela poeta em questão, como sua arma em busca desse novo mundo melhor, para trazer no imaginário novas perspectivas, abraços, e quem sabe até um pouco de justiça, para desentalar tantos gritos antes presos.

O livro é apresentado em quatro partes. Em sua primeira parte, é apresentado qual o intuito da escrita e o poder que ela possui de transformação, capacidade de comunicação, de expressão, vontades, desejos, aprendizagens e de demarcações de limites.

Em sua segunda parte, é trazido poemas que são gritos, os quais todos foram criados e recitados em espaços de declamação de rua, e que neles possuem o desejo de um mundo melhor, a vontade de apresentar um projeto popular e social, de sentir a liberdade pulsando no peito e jogar para fora todos os medos e anseios, essa parte fala da coragem antes de tudo, daquelas que mesmo quando tudo cala, a alma implora que escreva e jogue para o mundo sentir. 

A terceira parte, apresenta os efeitos colaterais de felicidade e tristeza que vem junto com o amor, podendo sentir em cada poema os efeitos de transformações que essa temática trás, tanto o crescimento após o coração partido, os dias que tudo pede para tentar esquecer, os dias que a saudade foi o abraço gelado, mas ainda sim abraço, e o que seja se (re)apaixonar de novo, tendo como princípio base a liberdade.

Na sua quarta parte, o livro trata-se de cura, das feridas a muito tempo abertas, de apontar onde dói, e que mesmo passadas, ainda sim precisam de atenção, cuidado e agradecimento.

A Autora

Natural do Cariri Cearense, nascida em Crato, Ana Letícia é poeta e educadora. Apresenta-se em rodas de poesias como Borboletícia. Cursou licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA. Integra o grupo Original Rep Cariri, movimento que visa construir e promover o cenário da poesia marginal e periférica na região. Trás em suas declamações a potência da oralidade forjada em rodas de Slam, vivências, referências e perspectivas de construção de um novo amanhã melhor. Começou a escrever quando criança, e sempre sonhou em ser escritora, instigada por essa vontade, ao longo da vida juntou muitos papeis (e perdeu também), com o tempo percebeu que não escrevia como alguém que juntava, mas como alguém que precisava. E embora, nessa atual obra não tenha suas primeiras poesias, tem a impressão da sua alma, da sua visão de mundo, do seu peito aberto e muito da coragem de ser vulnerável também.

Foto de Carolina Machado

Alguns Poemas do Livro

Trecho I:

Houve um dia,

Que o mar se dividiu

E eu não sabia

Mas a vida me

Me soprava

A contra gosto

“Pra ser você”

Terá que ir”

Sem pesos.

Sem bagagem alguma.

Dores e amores.

E eu fui.

Tudo que era

Daquela vida

Ficou para trás,

A liberdade

Me custou tudo.

Mas dessas águas

Não me arrependo

Nem por uma gota

Trecho II

Falarei de amor

Como quem descobre

A fórmula de uma vacina,

Como quem encaixa o quadril

Pela primeira vez

No compasso do forró.

Como quem estende em trilhas

Os cílios contados de desejos,

Como quem para de contar os cílios,

Pois não há revolução maior

Do que só querer estar presente

E nada mais.

Trecho III

A lei da entrega,

A mais poderosa que há,

Diz que o futuro é naquela sombra ali em frente.

As sementes espalhadas pelo caminho

Serão florestas para quem vier depois,

E o que se colhe,

É sempre o presente,

Que bem sentido,

Diz que os ventos que possam chegar,

Mesmo que trovejantes,

Se acalmam quando batem no mar,

Então que bom que alma é território sem fim.