Em Primeiro Diário da Água pequenas crônicas se enlaçam a fim de representar o fluxo de vida e pensamento de Clarice que insere nas suas elaborações íntimas, falas sobre as primeiras paixões, as relações, a experiência da rejeição, o vazio e liberdade.
De coração onírico e algo triste, cresce com muitas perguntas para dentro. À medida que as novas crônicas vão se encadeando é possível acompanhar e sentir as iluminações dos processos infinitos até o dia de se perceber mulher. Uma narrativa de fácil identificação, de resgate dos cenários da infância e da imaginação de uma menina aprendendo a ser ela mesma.
May Honorato é compositora, cantora e escritora. Na música, iniciou carreira com o primeiro show autoral 2010 na cidade natal, Viçosa, no interior do estado de Alagoas. Lançou em 2020 o primeiro álbum, “Clarão” que tem um sotaque e arranjos nordestinos fortes. Em 2022 lançou seu EP “Estranho Familiar”. Em 2023, singles e parcerias gravadas por outres artistas. Sempre autoral, de forma que a escrita veio através da composição, como ideias que não cabiam nas canções e pediam mais espaço e tempo. A escrita vem ainda por meio da influência de seu pai, o poeta Audálio Honorato que junto à Dona Isabel assegurou que a poesia sempre estivesse em casa. May está em processo de conclusão do primeiro livro de poemas. Reside atualmente na cidade de Maceió.
Reside atualmente na cidade de Maceió.
"Os dias de chuva sempre foram bonitos e poderiam deixar o
quintal ainda mais convidativo. As folhas tremendo sob a cons-
tância dos pingos, o chão misturando os elementos e planejando
plantas novas, mas eu tinha que ficar em casa como as demais
crianças do mundo, eu imaginava, mas tudo bem por isso, afinal,
eu imaginava. Pensava que os dias de chuva me traziam saudades
do reino em que vivi antes dessa vida, um reino com um mapa sem
limites em que novas cidades tinham liberdade de emergir a qual-
quer momento, as cidades atravessavam as dimensões invisíveis e
se misturavam com os planos que queriam, cada uma tinha uma
personalidade perigosamente forte, quase humana."
*
"Cuidado podia ser o anjo da pessoa e também até trazer manga
rosa recém-caída do pé, mas nada disso seria tão cuidado-cuidado
quanto o que minha mãe fazia enrolando a gente para dormir,
encaixando o lençol de um jeito que nenhuma parte ficasse des-
protegida. Não podia haver círculo de proteção mais poderoso, era
o que eu pensava. Se, antes de dormir, eu olhava para o telhado e
entrevia algum pássaro e, na mesma noite, minha mãe executasse
esse cuidadoso ritual, então,era dia marcado para ser bom."
*
"A morte, quando precisa fazer uma coisa, não se faz de rogada
e, no infeliz cumprimento das suas funções, buscou,poucos anos
depois da velha inicial, minha bisavó, alguns tios e um dos meus
irmãos. Não passava ainda dos 10 anos. Enquanto imaginava
compreender tudo que se passava, criava uma situação de con-
forto - assim eu imaginava - para os adultos que precisavam lidar
com aqueles rituais, não fazia perguntas, não expressava descon-
tentamento pelo maior tempo que conseguia e tentava manter
as outras crianças focadas em qualquer outro acontecimento ou
possibilidade."
Livro Primeiro Diário da Água
110 pág. - 1° Edição - 2024
Romance / Literatura Brasileira
ISBN 978-65-83046-03-1