O conjunto de poemas que formam Quando era, em sua maioria foram escritos no final dos anos 90, num período muito específico da vida do autor, em que uma ponta de lirismo ainda resistia e fazia de suas palavras algo em que não distorcia a maneira em que se via diante de um mundo propenso às mudanças. Porém, estão longe de serem poemas datados, tanto do ponto de vista conceitual, quanto no conteúdo que resguarda, de uma maneira sólida, a visão de mundo de um jovem poeta.
Carlos Roque é Arquiteto. Após a faculdade fez parte do grupo de poesia Núcleo de Convivência Literária e do Grêmio de Haicai Caminho das Águas até 2005. Escreveu muito, guardou quase tudo e depois de destrancar as gavetas, sente que perdeu todas as chaves. Em 2019 participou da coletânea 8 poetas – Poesia ao Infinito, coordenada pelo poeta Valdir Alvarenga, das coletâneas Off-Flip e disponibilizou na web o livro Rio de poucos Janeiros – vinte e cinco poemas e uma página em branco, dedicado à Marielle Franco. Em 2022 lançou o livro de poesia Enquanto o Mundo.
FÉ
Acredito piamente
na expansão dos desertos
no amor e no mínimo de uma máxima
na vingança como ponto de partida
e em pequenos gestos de maldade
no refinado sabor do vinagre
e dependendo
é claro e luz
rima
trova e cruz
de uma boa dose de verdade
e de algum raro tipo de milagre
acreditarei na vida antes da morte
e na vida depois de mim
aberta para a alegria de muitos
e de quase todos
que por pura
líquida e transparente
sorte
não estão por aqui.
MUSEU
Noites sem tato
estátuas de deusas
sem braços
bocas sem beijos
línguas e belas palavras
anãs
caducas e inefáveis
amor de homem com cobra
de mulher-mulher com macaco
amor sem abraços
noites sem tetos
penduradas pelo rabo
ganchos
anzóis e trapiches
no açougue do quarto.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Coleção Machado Preto - Livro #3
52 p.; 13 X 16 cm
ISBN 978-65-982649-8-7