Não prometo o Nenúfar, livro de estreia de Carla Nepomuceno, é um corpo de poemas dividido em vários cantos, que entregues aos deslocamentos no leito da vida, permite afetar-se pelas margens que atravessa, seja qual forem as águas. O nenúfar, flor aquática delicada,aqui representa a fragilidade da vida e a inevitabilidade das mudanças. A impermanência de uma promessa.
O que podemos prometer afinal a quem parte e a quem fica?
A autora traz nos espaços biográficos do eu lírico, que não cessa de existir entre o passado e o presente ao mesmo tempo, algumas respostas. De Porto Esperidião no Pantanal do Brasil ao Porto de Ribadeu na Galiza. Os poemas incorporam a sonoridade das línguas irmãs pelas terras que margeiam. Munheira ou Rasqueado? Alalá ou Moda de Viola?
Katia Marchese
Carla Nepomuceno | Mato Grosso | Brasil | Galiza
Nasceu em Porto Esperidião, Brasil, a 20 de novembro de 1978. É professora da rede pública de ensino na Galiza, poeta, escritora, pesquisadora e produtora cultural. Mestre em Literatura, Cultura e Diversidade no âmbito galego-português, Mestre em Educação. Organizadora e idealizadora do projeto literário Café com Português (literatura em galego-português), colunista na Palavra Comum – Revista Galega de Artes e Letras. É autora do livro Entre Rabiscos – Atividades de Vocabulário (Editora Flamingo, 2022), participou de várias coletâneas no Brasil e em Portugal, entre elas Invisíveis Olhares (2022), Sombras. Tempos de escuridão. Tempos de Luz (In-Finita, 2022), Conexões Atlânticas VIII (In-Finita, 2023), Antologias Entre O Sono e o Sonho (Chiado Books, 2023), Poesia BR5 (Editora Versiprosa, 2023), Antologia Liberdade – Vol. III e Antologia Minha Mãe – Vol. I (Chiado Books, 2024), Coletânea Doce Feito Caju (Ed. África e Africanidades, 2024), Coletânea Eu Conto, Tu Pintas (Ventos Sábios, 2024).
Cortaram os pés das carambolas
O meu quintal ficou pequenino
A minha infância sangrou
Cortaram os pés das goiabeiras
O meu quintal ficou miúdo
Cortaram as seriguelas
Os galhos apodreceram
A minha infância extenuou
E o meu quintal encurtou.
Lembro-me das férias no sítio
do cheirinho do café da minha avó às cinco da manhã
das brincadeiras no terreiro
das manhãs inocentes naqueles campos floridos
O olhar terno da minha avó ao preparar a comida
aquele olhar que me acariciava a alma.
Falo do álamo escondido em mim
do horizonte distante
e da saudade embebida
da vila que me viu nascer
da minha terra natal
sem deixar de derramar as lágrimas matutinas
Falo das horas infinitas
num delírio de uma dor sem fim
Eu queria apenas mais um pôr do sol
contemplar a tua beleza
rocha enraizada em mim
Falo do álamo escondido em mim
ovalado e vasto
Eu só queria encostar na tua brisa serena
e desembarcar no cais.
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