Semeadura
poemas e outros escritos
Meu roçado é formado por palavras que chegam de forma intuitiva, verdejam sentimentos. São como os grãos trazidos pelos bicos dos passarinhos. Vida que chega pelos ares e derrama flores e frutos na terra.
No processo de semeadura, para garantir a germinação, há que se fazer o manejo do solo. Na minha terra, meus mortos são parte fundamental da matéria orgânica que me fertiliza. A eles e por eles escrevi essa sementeira poética.
Outro ponto que requer atenção é a profundidade do plantio. A fundura adequada protege as sementes de eventos climáticos. Alguns grãos pedem mais sol, movem-se em direção à superfície. Na poesia acontece algo parecido quando as palavras rasgam o papel, e pulam em nossos olhos arregalados.
A rega é fundamental. Nem muito nem tão pouco. Equilibre a quantidade de água para não afogar as sementes, nem se afogar no excesso de palavras.
Abaixo a monocultura! Deposite seus grãos em fileiras bem espaçadas para facilitar o cultivo, e diversifique sua lavoura. A terra agradece e os leitores também.
As sementes germinaram. Acompanhe o crescimento do lavradio. Aprecie o nascimento das primeiras folhas brotando dos caules verdinhos, depois as flores, e finalmente os frutos.
Quando as palavras germinam em poemas o poeta, em reverência, saúda as musas que o inspiraram, e os leitores por seu interesse. Aos que se aventurarem a ler esta semeadura desejo uma boa colheita.
Sandra Pinto é carioca da gema. Em 2019 realizei um antigo sonho e passei a morar em Curitiba. Ama gente, criança, bicho e artes em geral. Graduada em História, trabalhou no Arquivo Nacional onde se aposentou em 2014. Após a aposentadoria, retomou uma paixão da juventude: a psicologia de Carl Gustav Jung. Fez especialização em Psicologia Analítica e em Arteterapia.
A escrita sempre esteve presente em sua vida, dos momentos tranquilos e apaixonados aos turbulentos. Para o autor, escrever é vital, é como acender uma lanterna e iluminar os esconderijos secretos da alma.
a vulva
qual é a forma da morte pra você
um esqueleto carregando a foice,
Caronte, ou o astuto jogador de Bergman?
pra mim ela é uma grande vagina
a vulva da terra
válvula da vida
energética
enigmática
onde habitam as fêmeas
na hora certa rompe-se o casulo
pulsa
contrai
expulsa
Eros
de onde vim morri
o grande relógio cósmico gira
pontual
cumpre decretos
no dia certo da hora certa
a vulva te engole de volta
túnel escarlate
aveludado e úmido
o mesmo de onde viemos
nada detém sua pulsão
Tânatos
para onde for nascerei
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