TODOS OS SENTIMENTOS DO MUNDO é sobre a poeta que descobriu nas dores da própria pele uma existência política por nascer fêmea, parir e educar um outro ser humano para este mundo tão hostil e violento para mulheres, mães e seus filhos. Cada poesia descreve essa visão diante dos acontecimentos, mudanças, medos, inseguranças, violências, tanta luta por afirmação, direitos e existência. A dor de se enxergar em um mundo onde nossos corpos, nossa maternidade e nossas dores dão lucro e são vendidas como entretenimento. Uma visão cheia de sentimentos intensos do mundo que nos rodeia e da forma como o mundo nos vê e nos coloca na sociedade, principalmente neste momento de busca por saúde mental diante de uma crise política mundial e uma pandemia. Cada verso é sobre todos esses sentimentos que só uma mulher/mãe tem na sua interpretação tão única da vida.
Sou Elisa Fleming, mãe do Miguel há 14 anos. Escrevo desde os nove anos de idade quando desenhei e produzi meu primeiro livro e na escola ganhava quase todos os concursos de redação. Poeta e cronista amadora, uma contadora de histórias da vida, como prefiro ao me descrever. Após anos trabalhando na área administrativa, escrevendo apenas nas redes sociais e para amigos e parentes, retomei o projeto e sonho da escrita logo após a maternidade, hoje minha maior inspiração. De tanto escrever sobre o assunto em meu Facebook, uma amiga me inscreveu em um concurso de crônicas no Clube dos Funcionários, onde fiquei em quarto lugar com a crônica “Miguel”. Nascida e criada em Volta Redonda/RJ, dedico meu tempo hoje à faculdade de Ciências Humanas, ao estudo de práticas educacionais da parentalidade consciente e à carreira de escritora. Tenho publicado de maneira independente, totalmente feito por mim, o livro de memórias “Coisas que não me contaram antes de ser mãe” e vou participar de minha primeira antologia de um coletivo só de mulheres poetas.
A escrita de Elisângela Fleming é direta e cirúrgica, trazendo para a frente dos olhos pensamentos e sentimentos ocultos que muitos de nós temos, porém escolhemos nos esquivar. Inquietações rotineiras e detalhes incômodos do dia a dia presentes nos conflitos internos e externos do ser humano quando seus anseios e necessidades vão em direto confronto com as demandas sociais. Seu existir como mulher transpassa seus escritos, puxando o fio de pensamentos existenciais profundos e complexos que acabam por ressoar na mente de qualquer leitor.
— Carolina Costa, escritora e professora.
“Por que escrevo?”
Por que escrevo?
Escrevo meu grito
Meu choro escondido
Minha falta de ar
Escrevo lágrimas
Solidão
Desconfiança
Por que escrevo?
Escrevo para cessar a dor
Curar a alma
Estancar o sangue
Emoção
Sentimentos
Escrevo, veja só
Para silenciar minha voz
E demonstrar meu amor
*
“Carnaval”
Olha
No meio da dor ela dança
No meio da gente que chora
No meio da rua ela samba
Olha
Lá fora o tiro e ela dança
A fome, o vírus e a guerra
No meio do morro ela dança
a miséria
a desgraça
a tragédia
No meio de tudo ela dança
Ela dança a ganância
O sangue
a lama
Ela dança
O dinheiro e a glória
Ela samba
No centro da terra
O samba que canta
E chora
Olha
No meio da dor ela dança
No meio da gente que chora
No meio da rua ela samba
Olha
Fugindo da dor ela dança
Chorando de dor ela samba
No meio de tudo ela dança
E samba
E chora