Quando adolescente, ou talvez ainda na pré-adolescência, comecei a escrever poemas para deus. Versos de louvor e adoração. Nesse período, um amigo me apresentou Rubem Alves, o que expandiu minha ótica e me possibilitou a conhecer outros poetas e poetisas (Fernando Pessoa e Florbela Espanca, por exemplo). Assim comecei a diminuir deus e observar os diversos eus que habitavam em mim.
Esse livro está repleto das expressões de inúmeros Brunos: o romântico, o pessimista, o sonhador que anda pelo sertão do Ceará, o engenheiro, ciclista e o devasso.
Faces que amigos e familiares ainda não conhecem ou jamais irão conhecer
Faces que, até serem poetizadas, eram desconhecidas para mim
Faces que exponho aqui
Para conhecidos e desconhecidos
E até para deus
Se ele me quiser ler.
O livro está embelezado por sete obras (técnica de bordados e aquarela) da minha amiga e artista Ísis Sobral.
Bruno Pereira nasceu em Fortaleza-CE, em janeiro de 1987. É cliclista urbano; engenheiro de humanas cursou Engenharia Ambiental e atualmente é doutorando em Engenharia Agrícola na Universidade Federal do Ceará; poeta de pouca rima, seu primeiro contato com as artes foi com a música e, posteriormente, ainda na adolescência, começou a escrever contos e poemas, um veterano sonhador.
Partitura
Nesse silêncio que tu me causa
Faz brotar uma canção sem fim
Uma semínima, uma breve, uma pausa
Todos os sinais te descrevem em mim
Sou a clave, a nota, sou a fusa
A partitura que tu tocas teu clarim
Tu és o motivo, o tema, e não abstrusa
Será a melodia entoada por meu bandolim
Andante no passo que te beijo
Em nossas bocas nascem os solfejos
Cromáticos o teu corpo conhecer
Andantino cresce o desejo
Allegro por um rebeijo
Vivace o ápice do prazer.
*
Um nada
Quando a noite vem
Densa e quente
Como se o Sol ainda reinasse
Em seu céu sem nuvens
Me embrenho
Nas pastagens da minha alma
Como um gado faminto
Em busca do Mandacaru
Rumino o que sou
Na esperança de um dia ser eu
Mas estou indigesto
E o que sou é amargo
Um mato no escuro
Um animal selvagem
Um nada!
*
Imaculada
Se outrora os teus lábios
Eram-me sonhos e desejos
Por hoje são versos em devaneios
De um poema interminável
Efêmera é a minha loucura inegável
De ter-te a deitar em meus braços
Entre suores noturnos e mormaços
Minha mão em teu corpo a rezar o terço
Santa imaculada é a minha culpa
De imaginar-te assim fecunda
Nua, devota e pecadora
Em tua boca a hóstia e o vinho
Constituindo assim a trina insurreição:
Corpo, suor e prazer.