“Nem com os passarinhos” nasceu no final de 2022, e foi ganhando forma após a autora ser encorajada por familiares e amigos a compartilhar os poemas guardados em um bloco de notas.
Alguns poemas foram produzidos em 2020, no período pandêmico, quando a escrita se configurou terapêutica e a criatividade ocupou mais espaço.
O livro está organizados em duas seções: Poemas para voar com a velocidade dos dias e Poemas para voar na contramão, traduzindo a escuta enviesada – da autora e do outro; capturas do que se tem, sente e busca; as vistas de um ponto sobre as relações afetivas, as inquietudes existenciais e de gênero; as escolhas e as partilhas.
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Charlene de Oliveira Pereira é paraibana, nascida em João Pessoa, primogênita de três filhos e mãe de Pedro. Psicóloga com formação em Saúde Pública, há sete anos fez morada no sertão da Paraíba, na cidade de Patos, onde trabalha como docente no ensino superior e gestora acadêmica, e vive entre agradecer à rotina mansa do interior e reclamar da saudade judiadora de mar.
Nem com os passarinhos
Ah os ganhos secundários da nossa relação!
Como resistir?
Como não se deixar?
Levar, voar, molhar, ficar
Todos passarão
Eu, todavia, nem com os passarinhos!
*
O menino
Algum traço resiste aqui
Quem sabe o jeito de olhar
Ou melhor, o embaçar dos olhos
Deve ser o medo de errar
Alguns gestos residem aqui
O sorriso no canto da boca
Os desejos sempre à frente
O desajeitado passo largo
*
O que será?
Deve ser a opção pela classe!
O traço colorido no sorriso...
De canto a canto da boca
O jeito de explicar o mundo!
Ou será a articulação larga dos quadris?
O passo firme das pernas? Tão grossas!
A cumplicidade gostosa das conversas
O cheiro de flor nos cabelos!
Aposto que é a afirmação das suas ideias
Encantadora uma mulher que usa a boca!
Imagino que é a liberdade dos gestos...
Traduzidos nos versos declamados
Deve ser também a vastidão dos nossos desejos...
De pele, de vida e de alma