Esta coletânea com poesias de temas diversos retrata as abstrações de uma mulher negra, nascida em uma periferia como tantas outras, que eternizou os gritos de sua alma em versos. A obra reúne os textos produzidos ao longo de sua jornada. Assim, de forma densa e por vezes, exagerada, apresenta o grito que ecoa da alma, ora pelo amor muitas vezes almejado e nunca alcançado, ora pelas frustrações nas relações humanas cotidianas. Dessa forma, a coletânea mescla em grande parte poemas de amor, desilusão e anseios, incluindo as abstrações de uma adolescente ao experimentar seu primeiro beijo até os poemas mais pungentes que ecoaram da sua alma angustiada pelos muitos desencantos que a vida traz.
Natural de Itarantim, Bahia. Reside em Vitória da Conquista. É uma sobrevivente às intempéries da vida. Há vinte anos ela morava com a filha em um acampamento de sem-terra, entrelaçada a um relacionamento tóxico. Em nossa sociedade machista e aversa a tudo que foge ao “politicamente correto’ é possível imaginar como foi sua trajetória.
Contudo, contrariando as piores expectativas, ela sobreviveu. Como uma mulher, preta, oriunda da periferia, percorreu um árduo caminho para alcançar cada uma de suas conquistas.
Atualmente é funcionária pública, bacharela em Direito pela UESB, especialista em Direito do Trabalho e Direito Penal/Processual Penal, licencianda em Letras/Inglês. É poeta e escritora, integrante da Academia Internacional de Literatura Brasileira. Orgulha-se em ser mãe e avó.
Cicatriz
Sofro intensa dor
Você partiu
Marcas ficou
Pensamento
Corpo
Alma
Eterna obstinação
A cada nova desilusão
Nova cicatriz no coração
*
Inércia
Incansável coração
Chega dessa ilusão
Perece sem emoção
Despreza a consolação
Nunca encontras razão
Queres viver na solidão
Novamente meu coração
Sofre vazio sem emoção
Triste viver sem pulsação.
*
Ressurgir
Do palco da vida, pouco me cabe a emoção
Sentimentos perdidos num passado distante
Entrelaçados por uma desilusão
Quando enfim, a alma desiste do amor
Torna-se sem sentido o viver
Sem provar do seu corpo o calor
Como se pedisse água, meu corpo seca sem cor
A minha alma cansada, sozinha por esta estrada
Desiste e enfim, se entrega ao leito da dor
Em meio à dor busco uma razão para amar
Pois o brilho intenso do sol da esperança
Vem meu corpo das cinzas reanimar.