Borboletando no Caos, de Marina Ribeiro, é uma obra singular que nos convida a uma viagem por um universo íntimo, onde a prosa e verso se fundem, transformando-se em um espetáculo performático de emoções e reflexões. Em cada página Marina nos guia por um caminho de metamorfose, tal como uma lagarta que enfrenta a resistência de voar e se liberta da solidão do casulo. Com generosidade e empatia, Marina oferece um olhar compassivo sobre a luta contínua de quem enfrenta desafios, reconhecendo tanto a dor quanto a resi - liência envolvida, seja como o armário velho enferrujado, que esconde tudo o que não é permitido mostrar, ou como quem vai do fundo do poço ao topo da montanha, caminhando sobre cacos geometrados. Borboletando no Caos é mais do que um livro. É um convite à introspecção e à aceitação do que foi chamado imperfeição. Com sua escrita delicada e potente, Marina nos (re)lembra que, mesmo em meio ao caos, podemos encontrar momentos de beleza e transformação, em atos de coragem e renascimento.
MARINA RIBEIRO, é estudante de Ser - viço Social, uma aprendiz da poesia des - de pequena, as palavras sempre foram refúgios. Muito do que ela escreve são falas de vozes que atravessa sua mente, como ouvidora de vozes demorou muito tempo para entender que um diagnóstico não a define, que um CID não carrega a vastidão de sua existência, e é na escrita que ela encontra o melhor caminho para lidar com essas vozes e sentimentos intensos. Essa é sua primeira obra teoricamente concluída, mas é só um pouco de tudo que tem solto entre seus cadernos e blocos de notas, que ela não mostrava a ninguém.
NÃO SÃO SÓ VOZES
As vozes que me desassociam
Me desfazem, me contemplam
No tempo que me aflora
Que me engole, me devoram
Me acessam de forma significante
E insignificativas, constantes
Delirantes em delírios
Elas me observam
O que agora não são só vozes,
São olhares, são peles
Paladares, tudo que me rodeia
E ao redor me tocam
Me desfazem em várias
Fragmentos, diversas
Gritam, cochicham
Falam de mim mesma, e sou eu mesma
Meus aspectos internos
Sólidos, sólidos, frenéticos.
*
Eu era a poesia solitária, simbolizada pelo misterioso
casulo da lagarta, eu nunca quis ser a metamorfose,
mas a natureza me obrigava, e foi nessa opressão
que ganhei asas e criei minha poesia que de mim
partiria. Para onde? Não sei, mas sei que borboletas
não voam tão longe como os pássaros.
*
EFÊMERA
Eu sou feita com (d)efeito que contradiz a
arte, na minha artificie eu era a exposição daquele
artesão que eu nunca conheci, uma arte efêmera
vagando no espaço nem um pouco articulador,
mas representativo de um artista qualquer que só
queria reivindicar coisa alguma, fazer algum tipo
de relevo bem à minha custa, eu podia ser sim uma
interferência metida a algo cultural, mas eu era nada,
só um basta de uma criação tardia, um rascunho
despretensioso, uma dança arrítmica, uma pintura
sem sentido, um rabisco, uma arte nada perspicaz,
incapaz de se tornar uma grande obra. O artista
que me criou, me esqueceu em um canto qualquer
daquele ateliê empoeirado, nem com retoques quis
me gastar seu pincel.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Livro Borboletando no Caos
Poesia/Literatura Brasileira
62 pág. - 1° Ed., 2024
ISBN 978-65-6064-061-0