escrever de boca aberta reúne poemas que passeiam por diferentes formatos e experimentações com e sobre a escrita. Um exercício para entender o próprio escrever e o fazer e desfazer que esse ato implica – tanto do próprio texto quanto de quem escreve.
Aqui, imagens se repetem, de modo a costurar uma (quase) narrativa de morte e nascimento, de solidão e amor, de luz e sombra. Pensar as palavras, o som, o corpo (e o tempo nele passando), a família e a sensação desconcertante trazida por objetos e seres como os pássaros, é parte fundamental do livro.
Iniciado na pandemia, mas ultrapassando as sensações desse período, escrever de boca aberta mostra o que muitas vezes se prefere esconder, a escatologia inerente a toda existência, a loucura, as obsessões. Se inscreve no corpo e adentra a pele e a boca, para escancarar o desejo de entender o que os dedos que dançam ao escrever têm a nos dizer sobre existirmos em 2024.
Anna Davison cresceu em Brasília, nas asas de um avião. Desde pequena, é apaixonada por palavras, artes e gentes. Tem textos publicados em revistas brasileiras e lidos no programa A culpa é das estrelas, da rádio portuguesa Terra Nova. Seus textos flertam com o ensaio e a autoficção, sempre pela voz da poesia. Já morou em uns tantos lugares desse mundo e não vive sem pão, azeite, vinho e muitos livros.
mu
mu é o ideograma único na lápide de yasujiro ozu
flutuando no nada
que desenha
o silêncio das sombras
uma pinta recém-nascida na palma da minha mão
presa entre duas linhas
que dizem
o futuro dos anos
escrevo como quem desenha sinais
ou ideogramas
no espaço entre uma respiração e outra
como o que cabe entre as sobrancelhas
sinto que é preciso apreender os mapas
que carrego
nos olhos escuros
como as mãos magras e secas
que não posso parar de olhar
reparo nos dedos se mexendo sobre o branco
busco cicatrizes
encontro o nada
🖋️
palavra
terminei muitos textos com a palavra
socorro
presa na garganta que dói
porque a palavra não foi capaz de fazer
o trajeto entre o córtex pré-frontal e a ponta
dos dedos que sustentam
a caneta
o sopro
a comida
as unhas pedindo
o socorro que nem chegou à boca para
provocar o leve toque dos dentes da frente fazendo
o ar sair sibilando antes de
se instalar na entrada da garganta
longe do foco da dor
Bem-vindo à loja oficial da Editora Toma Aí Um Poema (TAUP), um espaço dedicado à celebração da literatura em suas múltiplas formas e vozes. Desde 2020, publicamos e promovemos obras que desafiam o convencional, oferecendo um catálogo diverso que valoriza autores de minorias sociais, incluindo mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras, indígenas, neurodivergentes e outras vozes historicamente marginalizadas. Aqui você encontra poesia, ficção, ensaios e publicações que transcendem os limites do tradicional.